São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Incra de SP se rebela contra nomeação

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os servidores do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em São Paulo se rebelaram ontem contra o ministro de Política Fundiária, Raul Jungmann. Entraram em greve por tempo indeterminado.
Os funcionários são contra a indicação de Jonas Villas-Bôas para dirigir o órgão, em substituição a Miguel Abeche, exonerado na última terça-feira.
Caso ele assuma -Villas-Bôas estava ontem no Pontal do Paranapanema (SP)-, 28 chefias do órgão decidiram pedir demissão dos cargos de confiança e manter a paralisação.
O Incra paulista tem 107 funcionários.
"O ministro botou um balde de gasolina na fogueira", disse João Teixeira, da Associação dos Servidores do Incra.
Villas-Bôas esteve no órgão anteontem e foi recebido com gritos de "fora".
Os servidores afirmam que Abeche foi demitido de forma "rasteira" e que não aceitam qualquer nomeação de funcionários do Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo), ligado ao governo do Estado.
A crise pode gerar radicalização maior entre fazendeiros e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) -que também rejeita Villas-Bôas, por considerá-lo fomentador de divisão do movimento no Pontal.
As relações entre Incra paulista e Itesp são ruins há vários anos.
O Itesp é acusado, pelos servidores do Incra, de extrapolar suas funções e sabotar o trabalho daquele órgão.
"Isso é intervenção do Estado em órgão federal constitucionalmente responsável pela reforma agrária", disse Teixeira.
Recentemente, o Itesp (que Villas-Bôas dirigia) criticou compra de 50 tratores pelo Incra para sem-terra do MST no Pontal. Até acampados teriam recebido o benefício, contrariando norma.
Os servidores do Incra, por sua vez, acusam o Itesp de superfaturar eletrificação rural em assentamento em Araraquara (SP).
Erros sucessivos concorreram para a crise. Até agora o Incra não liberou recursos em TDAs (títulos da dívida agrária) para obtenção de terras em São Paulo.
O Estado, que tenta recuperar terras devolutas (públicas), fez avaliação baixa de benfeitorias dos fazendeiros. E a reforma emperrou com as disputas políticas.
Ontem, Jungmann (que diz ter interrompido negociações com o MST) foi à inauguração de agroindústria do MST em Cantagalo (PR). Prometeu mais terras.

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