São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Tacacá é o mais brasileiro entre os pratos

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dadas as dimensões gigantescas do Brasil, é compreensível que as culinárias regionais guardem diferenças entre si. Em seus pratos típicos misturam-se influências indígenas, africanas e portuguesas.
Absolutamente original, bizarro e nativo, porém, é o tacacá, uma espécie de caldo grosso e condimentado herdado da cultura indígena amazônica.
Por sua origem e ingredientes, este é o mais brasileiro dos pratos. Tudo nele pode causar uma insólita primeira impressão. Desde as circunstâncias do consumo, até sua composição.
Os lugares de consumo do tacacá são, por excelência, as esquinas da cidade de Belém do Pará, ao cair da tarde. Bebe-se na rua mesmo. O tacacá é servido em rústicas cuias: nada de mesa ou talheres.
As cuias, por sinal, são em si mesmas uma curiosidade: também conhecidas como cabaças, são fruto de uma árvore, a cuieira. Cortado o fruto ao meio e esvaziado seu conteúdo, tem-se duas cuias.
A sopa, uma vez servida, tem consistência inusitada, um pouco cremosa e quase pegajosa. Isto se deve a um de seus ingredientes, misturado na hora: a goma de tapioca (fécula de mandioca). Os demais ingredientes são também exóticos.
O principal deles é o tucupi, um líquido amarelo extraído da raiz da mandioca, e considerado um pouco assustador: desde que os índios começaram a utilizá-lo, existe a convicção de que é venenoso, se ingerido cru; por isto ele é longamente cozido antes de ser utilizado.
Para completar, é essencial no tacacá um dos ingredientes mais pitorescos da culinária: o jambu. Trata-se de uma planta rasteira cujas folhas, quando mastigadas, causam efeitos bizarros na boca, como um ligeiro tremor nos lábios e uma certa anestesia na língua. O bom tacacá leva ainda camarão seco e pimenta-de-cheiro, adicionada a gosto do freguês.

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