São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Hospital das Clínicas desativa 171 leitos

ANA MARIA MANDIM
DA REPORTAGEM LOCAL

O Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo, decidiu iniciar a desativação de 171 leitos de seu Instituto Central.
"É como fechar um hospital de pequeno porte", disse à Folha o nefrologista Marcelo Marcondes, 63, presidente do Conselho Deliberativo do HC e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Com 800 leitos, o Instituto Central é responsável por 60% do atendimento de todo o complexo HC, que conta com 2.000 leitos.
O motivo da desativação é a insuficiência de verbas: em 1995, a Secretaria Estadual da Saúde reduziu um terço -de R$ 360 milhões para R$ 240 milhões- os recursos destinados ao HC.
"Ao longo de 95 e 96 houve limitação para internação porque o hospital não contava com o número adequado de enfermeiras", disse Marcondes. "Perdemos cerca de 450 enfermeiras e auxiliares de enfermagem nestes dois anos."
No total, segundo o médico, o HC ficou sem cerca de 800 funcionários não-médicos, em consequência da política de não-reposição do pessoal que sai.
Leitos vazios
Cada enfermeira, segundo Marcondes, pode atender uma média de cinco ou seis pacientes.
No HC, em certos setores, cada enfermeira está atendendo a oito ou dez e, à noite, a 15 ou 20.
"Hospital com corpo de enfermagem deficiente não pode prestar assistência de boa qualidade."
O médico diz que será formalizada uma situação que já existia: "Com base na taxa de ocupação de cada uma das clínicas, desativaremos os leitos não-utilizados".
A decisão do Conselho Deliberativo foi comunicada na semana passada ao secretário Estadual da Saúde, José da Silva Guedes.
Segundo Marcondes, o secretário "lamentou" o fato, disse que "a saúde atravessa fase difícil" e "não há dinheiro para tudo".
"Antes de tomarmos a decisão, fizemos várias tentativas com o governo, todas fracassadas, para conseguir apoio para o HC", disse Marcondes.
"O HC é ponto de referência para todos os hospitais da Grande São Paulo e de outros lugares que não têm recursos para atender pacientes graves", disse Marcondes.
"Além disso, o HC é o hospital-escola da Faculdade de Medicina da USP. Quanto menor o número de leitos ocupados, menor o campo de treinamento para alunos e profissionais de medicina."

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