São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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Ida faz hoje a estréia em esporte 'nu'

Jogadora atua em Recife

JOSÉ ALAN DIAS
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Ida, Ana Margarida Alvarez, 31, 1,78 m e 64 kg, estréia hoje no vôlei de praia, na primeira vez que se apresenta em público após posar nua para a revista "Playboy".
A atleta participa da terceira etapa do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia, que está acontecendo na praia do Pino, em Recife.
Depois de ter sido medalha de bronze em Atlanta, ela resolveu dar uma "guinada" em sua vida. Após 11 anos de seleção brasileira, trocou as quadras, onde defendia o BCN, pela areia, e agora forma dupla com Kika, sua companheira do antigo clube.
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Folha - Quais foram os motivos que fizeram você trocar as quadras pela areia?
Ida - A gente passa oito meses por ano na seleção. Depois, quando vai para o clube, nunca é na cidade da gente. Eu moro em Santos, se continuasse no BCN, teria que ir para Osasco. Também não estou mais na idade de ter uma "vida cigana". Era para eu ter parado antes, em 94, mas aí...
Folha - Aí, o quê?
Ida - O Bernardinho (Bernardo Rezende) assumiu a seleção. Como eu estava bem, achei que poderia ficar até a Olimpíada. Felizmente, deu tudo certo e eu realizei o sonho de ganhar uma medalha olímpica.
Folha - Você acha prejudicial as jogadoras ficarem oito meses na seleção?
Ida - Eu acredito que nossa seleção chegou ao nível atual por tudo isso. Mas o sacrifício é muito grande. Você acaba não tendo vida própria. A vida não é só fama e dinheiro.
Folha - Você acha que outras jogadoras também vão aderir ao vôlei de praia?
Ida - O vôlei de praia tem tudo para crescer. Muita gente da quadra está querendo vir para a areia. É até mais barato para o empresário investir numa dupla do que gastar US$ 1,5 milhão num clube.
E você também é muito mais livre, não tem tanta cobrança.
Folha - Como vocês estão para a estréia de hoje?
Ida - Nós só treinamos juntas três semanas. Acredito que deva demorar um ano e meio para podermos enfrentar em grau de igualdade as principais duplas.
A gente ainda tem que pegar "muita manha" do vôlei de praia. Mas o principal é que estou fazendo aquilo que escolhi e gosto.
Folha - Você aceitou posar nua para a "Playboy". Por quê?
Ida - Eu achava que ia ser uma coisa legal, como acabou acontecendo. Não é porque você posa nua que vai se transformar numa pessoa vulgar. É um preconceito bobo que ainda existe no esporte.
Acho que eu e a Hortência (que também posou) ajudamos a derrubar esse tabu.
Folha - Você enfrentou algum problema?
Ida - Não. Está todo mundo dizendo que ficou superlegal. Minha família ficou um pouco preocupada no começo, mas deu tudo certo. Eu tinha receio com relação à minha filha Agatha, que tem 9 anos.
Fui até na escola conversar com a orientadora dela. Felizmente, a Agatha não teve nenhum problema. Se ela tivesse qualquer problema ou não aceitasse, eu não posaria.

O jornalista José Alan Dias viaja a convite da organização do torneio

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