São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Wilder ri da imprensa

INÁCIO ARAÚJO
DA REDAÇÃO

"A Primeira Página" (Telecine, 17h) tem uma longa história. Primeiro, foi uma peça de sucesso de Ben Hecht e Charles MacArthur, adaptada por Lewis Milestone para cinema em 1931.
A história era a do repórter que pensa em largar a profissão, às voltas com um editor capaz de todos os golpes baixos para evitar que isso aconteça.
Howard Hawks voltou ao assunto (com roteiro dos autores da peça) em "Jejum de Amor", de 1940, mudando um pouco os dados. Fez de Rosalind Russell a repórter que, além de deixar o jornal, tenta abandonar o marido e editor (Cary Grant).
Por fim, Billy Wilder retomou a história em 1974, com Jack Lemmon como o repórter e Walter Matthau como o editor. Novo sucesso.
Wilder faz um retrato ácido do jornalismo nos anos 20. Ácido é um eufemismo: ora ingênuos, ora cretinos, quase sempre inescrupulosos, os rapazes da imprensa parecem ser os menos aptos do mundo a compreender uma notícia ou a captar um ser humano.
A velocidade trepidante do veículo induz à superficialidade, mesmo quando o que está em jogo é uma vida (no caso, um inocente condenado à morte).
Curiosamente, essa comédia demolidora foi feita pouco depois de a imprensa viver um momento de glória: o caso Watergate. Esse é um mistério. Nem por isso "A Primeira Página" deixa de ser uma comédia admirável.
(IA)

Texto Anterior: CLIPE
Próximo Texto: NOITE ILUSTRADA
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.