São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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O Caso Folha/Ajax

CHICO AMARAL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Foi irritante assistir à conivência desse jornal com o marginal que se arvorou de autor de composições do Skank, todas elas, sem exceção, produzidas por aqueles citados nas fichas técnicas dos discos, ou seja, unicamente por Samuel Rosa, Lelo Zanetti e por mim.
A dúvida lançada por aquele indivíduo atingiu sobretudo a minha pessoa, já que sou o letrista das canções e poderia ter enganado meus próprios parceiros -a não ser que o Skank tenha tomado conhecimento de meu suposto roubo e o endossado, o que é grosseiro e ofensivo a todos nós.
Mas vamos lá. Todos sabemos que o jornal se justificará dizendo estar apenas veiculando acusações de outra pessoa. Não vamos nos esquecer também de que o caso não foi examinado até agora pela Justiça, de que a verdade ainda não está clara para as pessoas (principalmente para a Folha) e de que eu, marginal ousado, posso estar aqui blefando mais uma vez.
A Folha não me acusa (gentil) de blefe. Só dá uma primeira página e mais uma interna -duas páginas!- na Ilustrada para um acusador patético, obscuro, semi-analfabeto, enfim, um farsante que não consegue sequer copiar corretamente meus textos.
Decerto para dar alguma consistência ao sujeito e justificar seu interesse extremado no assunto, a Folha, por meio de seu jornalista Armando Antenore, fica o tempo todo chamando o marginal de poeta (o que não tem nada a ver com poesia marginal, viu, Antenore?), endossando de modo ridículo a autodenominação fraudulenta dessa pessoa.
Uma perguntinha, Antenore: e se ele não for poeta coisíssima nenhuma? Você não acha que pega mal enganar seus leitores com essa irresponsabilidade? Ou talvez o repórter, mesmo morando aí na terra de um Haroldo de Campos, pense que poesia é qualquer bobagenzinha que se escreva. Se um cara se diz poeta, certamente é, qual o problema?!
O leitor que não se engane: se esse jornal passou todo o tempo chamando o estelionatário de poeta, e nem nos dá uma prova disso publicando um poema seu, para comprovar sua produção e capacidade, foi para encobrir sua preguiça investigativa, sua predileção pela fofoquinha urgente -só que em grossas tintas-, sua gula pela velha polêmica (?) escandalosa: Fulano acusa Skank de roubo; Skank chama Fulano de sei-lá-o-quê; Fulano volta à carga; Skank faz a réplica.... E assim a Folha tem sua semaninha gorda, graças a esse lixo (se o mundo é um lixo, eu não sou, já dizia um vero poeta baiano).
Foi só por isso, foi por isso tudo, que nós, o Skank e eu, preferimos não comentar o assunto na imprensa. Fomos éticos e respeitamos o público brasileiro, merecedor de melhores debates. Portanto, que a Folha não venha se justificar dizendo que nos procurou para a reportagem.
Simplesmente a julgamos absurda e ofensiva demais para querermos dela participar. Quero lembrar ainda aos senhores o erro crasso e maldoso do repórter ao confundir um simples reconhecimento de firma em tabelião de notas com um registro das obras em questão. O repórter foi tolo, com o consentimento de seus editores, e a foto do marginal com sua prova causou impacto nas pessoas, colocando meu nome em suspeição.
E, para terminar, por que o Antenore não deixou a preguiça de lado e deu uma olhada em todas as letras que fiz para o Skank (e para meus caríssimos parceiros outros -Affonsinho, Lô, Ed...). Ficaria óbvio para ele que eu não preciso roubar letras. Agora eu quis falar. É só isso.

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