São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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ACORDA, BRASIL

Suponha, leitor, que você, como empresário ou assalariado, esteja envolvido em uma negociação para associar-se a uma gigantesca empresa norte-americana. O lógico seria que o seu coração, alma, nervos e cérebro estivessem, 24 horas por dia, voltados para essa negociação, tal o óbvio impacto que o desfecho dela teria em seu futuro.
Pois é mais ou menos isso, guardadas as proporções, que está ocorrendo com o Brasil, sem que, no entanto, a opinião pública preste atenção.
O governo brasileiro negocia a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que é, na essência, uma associação com os Estados Unidos, já que estes representam 75% do PIB somado dos 34 países das Américas.
Mas a negociação se desenvolve ao largo da opinião pública. Claro que seria ingenuidade supor que a população em geral se interessasse por um tema tão complexo, quase esotérico. Mas há canais institucionais -sindicatos, patronais ou de trabalhadores, e organizações não-governamentais etc- que não têm o direito de permanecer omissos.
E há, sobretudo, o Congresso Nacional, representação teórica da sociedade, no qual uma parcela substancial de parlamentares parece nem sequer saber o significado do acrônimo Alca, quanto mais os detalhes.
Não é uma negociação neutra ou de pouca relevância. No lado positivo, pode significar a ampliação do acesso de produtos brasileiros ao mais suculento mercado do mundo, o norte-americano.
No lado eventualmente negativo, pode representar abrir ainda mais a economia brasileira, justamente para a hipercompetitiva produção norte-americana, com efeitos potencialmente destrutivos, se a negociação for mal conduzida.
É verdade que as negociações para a Alca são ainda preliminares. Mas não parece razoável omitir-se nesse estágio, até porque intervir mais adiante pode ser tarde demais, posto que alguns compromissos já estarão internacionalmente assumidos.
Todos discutem a globalização da economia, um fenômeno aparentemente irreversível. É paradoxal que, na hora em que a globalização torna a forma concreta de um acordo como o da Alca, haja tamanho silêncio.

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