São Paulo, sábado, 21 de setembro de 1996
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Rosane vai sofrer processo criminal

Procurador vê desvio de dinheiro

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Justiça Federal aceitou denúncia do Ministério Público para processar criminalmente Rosane Collor, mulher do ex-presidente Fernando Collor (1990-92).
Ela é acusada de ter cometido corrupção passiva, fraude e desvio de dinheiro público como presidente da LBA (Legião Brasileira de Assistência). A pena varia de 6 meses a 22 anos de prisão.
O juiz Sídney Peres mandou o Ministério Público identificar o endereço atual de Rosane em Miami (EUA) para que ela possa ser chamada a depor em Brasília.
A Folha não conseguiu localizar, em Brasília, o advogado Amaury Serralvo, contratado para defender Rosane Collor.
A Folha entrou em contato com o advogado Fernando Neves, que defende o ex-presidente Fernando Collor. Ele disse que só Serralvo poderia falar sobre o assunto. Segundo a secretária do advogado de Rosane, ele está viajando e só retorna a Brasília na segunda-feira.
O jornalista Rony Curvelo, assessor de Collor em Miami, disse que o ex-presidente e sua mulher não falariam sobre a denúncia.
A denúncia aceita pelo juiz acusa Rosane de ter fraudado licitação para aquisição de 1,6 milhão de quilos de leite em pó e ter desviado dinheiro em favor dos industriais fornecedores do produto.
Segundo a denúncia, Rosane teria se beneficiado dos depósitos feitos por empresários em contas "fantasmas" comandadas por Paulo César Farias, ex-tesoureiro de campanha de Collor.
Autor da denúncia, o procurador Luís Wanderley Gazoto afirma que Rosane teria feito aditivos indevidos no contrato das duas empresas vencedoras de concorrência para a compra de leite em pó.
A denúncia relata que, em março de 1991, o valor do produto teria sofrido reajuste de 41%. Isso teria contrariado lei vigente à época, que só permitia acréscimo de 25% em produto objeto de licitação.
Segundo o procurador, a PF (Polícia Federal) teria encontrado na conta corrente de Rosane altos valores depositados por pessoas ligadas ao esquema de PC Farias.
Sua conta teria recebido R$ 600 mil por meio de transferências de saldos das contas dos "fantasmas" José Carlos Bonfim e Flávio Maurício Ramos. De acordo com o procurador, os industriais teriam feito depósitos a favor de uma empresa criada por Luiz Carlos Coelho, que seria testa-de-ferro de PC Farias.
Os empresários alegaram que os valores se referiam a comissões pagas pela venda de seus produtos. Coelho não foi localizado ontem.
"Nenhum deles comprovou a existência de contrato que pudesse justificar os exorbitantes valores cobrados", diz a denúncia.
Segundo o procurador, o suposto testa-de-ferro chegou ao "descaramento" de registrar em nome de Walter Walker a empresa criada para receber dinheiro de empresários. "Esse é o nome do personagem que encarna o famoso 'Fantasma', personagem de história em quadrinhos", disse o procurador.

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