São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Livro diz que terno deixa homem nu

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Quem imagina que o terno, considerado hoje o principal expoente do conservadorismo e da estagnação é a peça chave da modernidade e a exata descrição do desejo das mulheres por quase 200 anos?
É o que diz a norte-americana Anne Hollander, 65, professora de história da arte, no livro "O Sexo e as Roupas - A Evolução do Traje Moderno", lançado no Brasil.
Essa básica combinação de calça e paletó surgiu como um traje simples, para o homem do campo na Inglaterra, quase com a mesma função desempenhada décadas mais tarde pela dupla jeans e camiseta.
Essa última, por sinal, não passa da roupa íntima, usada embaixo do terno, que passa a ser adotada por homens e mulheres, diz a professora.
Segundo Hollander, o terno foi concebido para imitar a beleza clássica das linhas do corpo nu -ombros largos, a definição de onde começam braços e pernas e suas exatas proporções- como uma segunda pele, numa inspiração que remonta ao ideal das esculturas gregas. Daí seu apelo erótico para homens e mulheres.
Já os vestidos com suas grandes saias faziam do corpo da mulher um mistério, além de estarem ligados diretamente a uma idéia de não-praticidade. Segundo Hollander, a moda feminina sempre alterou a forma do corpo da mulher, levantando ou pressionando os seios e ainda aumentando os quadris ou escondendo-os.
"Moda é sexualidade, pois existe projetando uma imagem do corpo. As pessoas podem se vestir para mostrar algo diferente do que são. E homens e mulheres sempre se vestiram para parecer atraentes", afirma a autora.
Hollander traça uma história dos papéis sociais de homens e mulheres refletidos na maneira de vestir. Daí tira a conclusão de que o vestuário feminino sempre foi mais conservador e a moda para os homens ocupou sempre a vanguarda. "Quando começam os movimentos de liberação da mulher, primeiro no meio do século 19 e depois nos anos 60, a moda feminina passa a ser uma analogia das roupas dos homens", diz.
Uma das curiosidades do livro é a revelação de que, até o século 17, todas as roupas eram desenhadas e costuradas por homens e apresentavam características semelhantes, principalmente nos adornos.

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