São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 1996
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Escolas montam fortalezas em Brasília

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Escolas públicas das cidades-satélites de Brasília estão se transformando em verdadeiras fortalezas para proteção contra a violência das gangues juvenis.
Não fosse pela algazarra adolescente, boa parte dessas escolas poderia ser confundida com presídios. Os muros chegam a 2 m de altura e têm arame farpado no topo. Os portões de entrada -feitos de chapas de aço- estão sempre trancados com cadeado.
As gangues não são um fenômeno novo nas cidades-satélites. Na Ceilândia -a maior do Distrito Federal, com 400 mil habitantes-, os professores lidam com a violência juvenil há dez anos.
"As ondas de violência vão e vêm, porque o grupo de alunos está sempre mudando. As gangues são resultado da pobreza, da violência doméstica e da falta de perspectiva de emprego", diz Manoel Serrano, diretor do Centro de Ensino 13, na Ceilândia, que atende 1.500 alunos.
Rixas banais
As gangues têm estudantes de ambos os sexos. A maioria é comandada por ex-alunos que abandonaram os estudos e passam o dia na porta dos colégios.
Há gangues que se organizam para pichar muros. Outras aliam a pichação a atos criminosos, como tráfico de drogas, pequenos furtos e extorsão de alunos e professores (os chamados "pedágios").
As rixas entre as gangues surgem por motivos aparentemente banais: disputa por namoradas e provocações em sala de aula.
Para evitar o confronto entre as gangues dentro das escolas, os diretores colocaram portões com cadeados entre o pátio, as salas de aula e as quadras de esporte.
Ainda assim, gangues de fora conseguem entrar nas escolas. "Eles cortam o arame e pulam o muro ou então ameaçam agredir os porteiros", diz Serrano.
Professores armados
Professores e diretores não escondem que também se sentem ameaçados. "Temos de tratar esses marginais com o maior respeito, porque eles são muito vingativos", afirma Nelson Moreira Sobrinho, do Centro de Ensino 23, também na Ceilândia.
Para se defender, os professores compram armas ou se mudam para escolas do Plano Piloto.
No Centro de Ensino 13, professores e alunos fizeram uma "vaquinha" para aumentar o muro.
As adolescentes -mesmo as que não fazem parte das gangues- são usadas para passar drogas e esconder as armas.
Em algumas escolas, "os alunos escondiam maconha e pedras de crack nos bonés", diz Eliceuda França, diretora do Centro de Ensino 10, na Ceilândia. O uso do boné foi proibido.

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