São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 1996
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Previsão do tempo na TV é obsessão do americano

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hoje é o segundo dia de outono em Nova York. Com a nova estação, tem início também a temporada na TV americana. Mas as estréias chamam menos atenção do que as excentricidades rotineiras da televisão dos EUA. E a maior delas talvez seja o enorme espaço dedicado à previsão do tempo.
A se confirmarem as expectativas, o final do verão terá sido marcado por um domingo providencialmente chuvoso, com temperatura mínima de 61 e máxima de 67 graus Farenheit. A adequação entre os boletins meteorológicos e o fim da estação é assustadora. O tempo nesse caso se comporta exatamente como previsto na teoria.
Os homens e mulheres do tempo constituem um dos pilares da televisão neste país. Desde as seis da manhã, os canais de televisão repetem à exaustão detalhados boletins meteorológicos. Os telejornais das principais redes, ABC, NBC e CBS, dedicam grande parte de suas edições a esmiuçar as intempéries de ontem, de hoje e dos próximos dias.
As estações locais se esmeram em inserir os boletins sobre as condições do tempo em suas cidades. E a TV a cabo tem uma canal especializado na previsão do tempo, o "Weather Channel", 24 horas no ar, com boletins sobre condições meteorológicas em todas as partes do planeta e vinhetas fantásticas, onde o globo terrestre se dissolve no infinito céu azul.
"Este é o único país do mundo em que o tempo de ontem é notícia", observa com ironia um célebre professor estrangeiro estabelecido nos Estados Unidos há muitos anos. Realmente, além de dissertarem sobre as condições dos próximos dias, os apresentadores informam sobre a temperatura máxima e mínima do dia anterior.
Os fenômenos naturais são relatados em linguagem científica de forma a confirmar que estamos realmente aptos a domesticar a "mãe natureza" como dizem os locutores. Somos informados sobre o nível de umidade, a velocidade do vento, o nível de precipitação acumulada, a formação de zonas de alta e baixa pressão atmosférica sobre os oceanos, etc.
Minuto a minuto somos preparados para enfrentar as agruras do mundo lá fora com a menor dose possível de sobressaltos. Pode ser tranquilizante sair de casa com a sensação de estar prevenido contra intempéries inesperadas. A obsessão meteorológica nos EUA talvez aplaque a ansiedade cotidiana assegurando uma tranquilizadora sensação de domínio do mundo.

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