São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 1996
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Irlanda é a terra que não existe

Divisão marca o lugar

ALCINO LEITE NETO
DO ENVIADO ESPECIAL À EUROPA

Uma onda irlandesa corre o mundo: filmes, livros e personagens (leia à pág. 6-4).
Mas a Irlanda não existe.
É uma ilha dividida em dois países -República da Irlanda ou Eire e Irlanda do Norte, país do Reino Unido- e atormentada por séculos de história sangrenta, dominação, conflitos religiosos.
Católicos e protestantes travam uma disputa ancestral.
No Eire, 93% da população é católica e 3,4%, protestante. Na Irlanda do Norte, 51% são protestantes e 38,4%, católicos.
É um lugar onde duas línguas rivalizam: o inglês e o gaélico irlandês -no Eire, 11% falam a segunda língua, e as placas de rua são bilíngues.
No dramático cais de Cobh, nos campos de Cork, nos lagos de Killarney, nas ruas de Dublin, tudo modela o mito da Irlanda.
Ela é uma aspiração -e, por isso mesmo, um país extraordinário. Talvez seja uma das últimas utopias do Ocidente -vivida a ferro, fogo e poesia.
Porta de entrada
Em Cobh (nome gaélico que se pronuncia: couv), a Irlanda foi desistência e tragédia.
Nesse importante porto no sul do Eire, embarcaram milhões de emigrantes irlandeses que fugiam da fome e da pobreza -ou, simplesmente, cumpriam a sentença de um degredo.
Alguns foram para a Austrália, outros para a Inglaterra, mas a maioria tomou o rumo dos Estados Unidos.
Lá constituíram a principal comunidade de imigrantes irlandeses do mundo. Alguns de seus descendentes mais famosos foram o cineasta John Ford e John Fitzgerald Kennedy, o primeiro presidente católico dos EUA.
Foi também em Cobh que o Titanic fez sua última parada, antes de naufragar, em 1912.
O Queenstown Project conta um pouco dessa tumultuada história do porto e vale a pena ser visitado. Fica junto a uma velha estação vitoriana, perto do cais.
Para o turista, no entanto, Cobh é uma feliz e estratégica porta de entrada na República da Irlanda.
Dali, atinge-se facilmente a antiga cidade de Cork, a charmosa Kinsale e os belíssimos lagos de Killarney, que fascinaram o filósofo Berkeley e escritores como Walter Scott, Thackeray e Shelley.
O local, na verdade, é um grande parque nacional, dominado pela Muckross House, mansão neogótica construída em 1843.
Não muito longe, fica a deliciosa cidadezinha de Killarney, de onde partem variadas expedições para o parque nacional.
(ALN)

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