São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
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Tempos primaveris

LUÍS PAULO ROSENBERG

Houve uma clara melhoria do cenário macroeconômico nos últimos 30 dias.
Em primeiro lugar, passado o efeito da sanha de recuperação das tarifas públicas, a inflação não apenas caiu: ela despencou para próximo de zero.
Mesmo tendo ocorrido um exagero na queda dos preços de alimentação, que já começam a repicar no atacado, a verdade é que estamos numa economia cuja inflação anual latente já é de um dígito na margem. Prova não só de que o Real continua extremamente robusto, mas também de que a almejada desindexação é um fato.
Isso significa que a possibilidade de repique de preços, como acontecia quando os planos de estabilização anteriores faziam água, é nula: dar errado, para o Real, significa aprofundar a recessão e observar a volta da inflação lentamente, sendo necessários mais de três anos e muita trapalhada para bater 4% ao mês.
Em segundo lugar, as contas externas receberam uma ajuda substancial com a aprovação da lei de desoneração da exportação de não-manufaturados.
Com efeito, se a balança comercial deste ano pode até fechar com US$ 2 bilhões de déficit, na margem, as perspectivas de recuperação das exportações melhoraram substancialmente.
Assim, fechando este ano com um crescimento de 6% em relação a 1995, elas ainda terão gás para continuar crescendo em 1997.
Quem tem acendido velas pela maxidesvalorização certamente terá um uso mais inteligente para seu dinheiro: nem por um milagre a saúde do Real seria ameaçada por medida tão inoportuna quanto desnecessária.
Já os fluxos financeiros continuam sob controle, com uma ligeira e benéfica redução de reservas pelas saídas do flutuante.
Em terceiro lugar, a reativação econômica do segundo semestre, na comparação com o semestre anterior dessazonalizado, é um fato. Confirmam-se, assim, as previsões de um fim de ano melhor, que nos permitirá entrar em 1997 rodando já a 3,5% ou 4% de crescimento do PIB, na margem.
No front político, as implicações da aprovação do novo ICMS são mais profundas ainda. Ficou demonstrado que mesmo um projeto complexo, com tantos interesses divergentes, pode ser aprovado no Congresso se houver um interlocutor hábil e persistente representando o Executivo.
Esse papel, tão bem incorporado pelo novo ministro do Planejamento, será o bilhete para aprovar a reforma administrativa, a aceleração de privatizações e o Orçamento de 97.
Quanto à emenda constitucional pela reeleição, apesar de a maioria da população revelar-se contrária à iniciativa, há muita gente interessada na medida para que se possa considerá-la um azarão. Além do presidente e sua caneta de condão, governadores e prefeitos engrossarão o cordão dos defensores da medida, tornando viável aprovação de emenda antes do recesso desta legislatura.
Por essas e outras, continuam em vigor nossas projeções de vários meses atrás: fechamento tranquilo dos dados de 1996, com inflação perto de 12%, juros já na casa de 1,7% ao mês, câmbio abaixo de R$ 1,04 por dólar e crescimento do PIB de cerca de 2%, com déficit nominal de cerca de 5,5% do PIB.
Para 97, maior crescimento, menor inflação e melhoria nas contas públicas. A conferir: a aprovação ou não da emenda pela reeleição.
Pode não ser um nirvana, mas está bem mais previsível e animador do que em muitos anos.

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