São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
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Candidatos desprezam cultura

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Na era publicitária do candidato-hambúrguer, o marketing eleitoral escanteia a cultura. Quando ouvem falar no assunto, os partidos sacam apenas genéricas e obrigatórias cartas de intenções.
É o que ocorre com os programas de governo dos quatro principais concorrentes à Prefeitura de São Paulo -Celso Pitta (PPB), Luiza Erundina (PT), José Serra (PSDB) e Francisco Rossi (PDT).
Não trazem uma linha, por exemplo, sobre o rap, manifestação mais do que popular na periferia da cidade. Tipo de música, aliás, utilizado fartamente por Pitta, Erundina e Serra em seus comerciais de rádio e TV.
A cultura, como se viu até agora na campanha eleitoral, não rendeu qualquer polêmica. Sem charme, o assunto não tem os seus 15 segundos de "Fura-Fila", por exemplo.
Em texto para o último número da "Revista de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas", o professor José Carlos Durand, coordenador do Centro de Estudos da Cultura e do Consumo da FGV, resume a situação.
"Os intereses corporativos dos artistas costumam ser fortes na disputa pelas migalhas oferecidas pelos governos", escreve ele.
E completa: "Enquanto que os interesses dos políticos costumam ser tão fracos que dificilmente o tema cultura aparece em programas de partidos políticos".
Com apenas 18 linhas de texto dedicadas ao tema, o programa de Pitta louva os feitos do seu padrinho político, o prefeito Paulo Maluf (PPB), e prega a importação da arte dos países do Mercosul. "Significa trazer à SP a cultura dos nossos irmãos argentinos, uruguaios e paraguaios", descreve o projeto.
Segundo os pensadores culturais do PPB, o intercâmbio com os "hermanos" multiplicará as "oportunidades de trabalho" para os artistas locais, que poderão ser conhecidos nos países vizinhos.
Único partido a dedicar quatro páginas de seu plano à cultura, o PT gasta muitas linhas com receitas de puro "sociologuês": "Impulsionar, por meio da capacitação crítica, o sentido de fruição das práticas culturais, da cidadania e da qualidade de vida das pessoas".
No plano terreno, Erundina prega o apoio à criação de rádios livres e TVs comunitárias e derrama-se de amores pelo samba.
Os petistas prometem fazer um grande Carnaval e criar a "Assessoria do Samba", uma espécie de subsecretaria só para gerenciar a música e acabar com o negócio de que SP é o cemitério do batuque.
O partido dos sociólogos, PSDB, reservou 43 linhas para o assunto. Fora as coisas do tipo "incentivo à cultura popular", Serra promete um programa "quadrienal" de apoio às artes. Para os tucanos, será fundamental informatizar as bibliotecas públicas. Querem ainda promover megaeventos para incentivar o turismo cultural em SP.
A principal bandeira de Francisco Rossi (23 linhas dedicadas à cultura) é a distribuição gratuita de ingressos de teatro nas escolas.

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