São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996 |
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Nuno Ramos "conversa" com Osvaldo Goeldi em exposição Individual do artista tem abertura hoje em São Paulo KATIA CANTON
A conversa, no caso, é pictórica, conceitual e responde tanto a uma proposta da galeria de lidar com curadorias que envolvam o desenho quanto a uma profunda ligação que o artista contemporâneo mantém com o mestre moderno. "Essa mostra tinha que ser específica, temática. Pensei em fazer uma homenagem a Goeldi porque ele transmite um abandono e uma tristeza, que são emoções nas quais o Brasil não gosta de pensar, mas que são fundamentais", explica Nuno Ramos. "Goeldi não é sol, é garoa. Ele fazia um contraponto à arte social oficial de Portinari. Era muito mais profundo. Goeldi tem uma densidade literária, só comparada à de Iberê Camargo." Depois de viver 18 anos na Suíça, de volta ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, Osvaldo Goeldi, começou a utilizar a xilogravura -gravura em madeira-, que acabou se tornando o carro-chefe de sua experimentação artística. Pois Nuno Ramos organizou duas séries de desenhos e duas séries de esculturas que conversam com o princípio da gravura, mas utilizam suportes originais. "Gravura, para mim, é a experimentação de como um material grava e como atua sobre outro. No processo um corpo passa características para o outro, irradia", fala Nuno Ramos. O artista segue esse raciocínio e cria obras com uma cadeira, um cesto e uma mala, que são "imprimidos" em vidro fundido. "São móveis lesados, achados, fundidos em bronze. O vidro funde a 700 graus para irradiar suas formas", conta o artista. Nos desenhos, a ligação com a gravura é mais sutil. Tanto na série mais escura, feita com bastão de óleo, tinta dourada e solvente, quanto na mais clara, que utiliza verniz e carvão, Nuno Ramos estabelece pensamentos de cor ligados à gravura. Em todos eles, prevalece o contraponto entre preto e dourado. O interesse de Nuno Ramos por Goeldi é consistente. O artista já havia escrito textos e realizado curadorias prévias sobre ele. Uma das razões da referência é a identificação com sua própria obra. "Goeldi tem uma fluidez poética, passa do fúnebre para o eufórico com um universo de elementos característico. Ele tem uma lógica noturna e alucinada, povoada de urubus, peixes, lanterneiros. Eu também realizo essa passagem entre o metafísico e o banal." Outra questão importante é a geracional. Abre a possibilidade de um artista brasileiro usar outro brasileiro como referência de sua própria história. Exposição: Para Goeldi, de Nuno Ramos Quando: de hoje a 25 de outubro; de segunda a sexta das 14h às 19h; aos sábados, das 10h às 14h Onde: A.S. Studio (alameda Santos, 1787, Jardins, tel. 011/253-3233) Texto Anterior: 'Segredos e Mentiras' abre Mostra Rio em SP Próximo Texto: Rui Moreira lança olhar à cultura popular Índice |
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