São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996
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Planos para o metrô; Desvalorização da vida; Distorção; Incoerências políticas

Planos para o metrô
"Reportagem publicada na pág. 1-6 da edição de 25/9 da Folha, a respeito dos planos de José Serra para ampliar o metrô paulistano, merece uma série de reparos.
A começar pelo título. Não é correto dizer que o plano de Serra irá resultar em custo duas vezes superior aos padrões internacionais para a construção de metrô.
Ao elaborar o seu plano de participação da Prefeitura de São Paulo na ampliação do metrô, Serra valeu-se, como referência, de orçamentos feitos por gestões estaduais anteriores (Orestes Quércia e Fleury Filho), os quais foram apresentados ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com vistas à análise de crédito para as obras.
Isso não implica em renúncia, por parte dos futuros parceiros (prefeitura, Estado e iniciativa privada), na condição de sócios dos empreendimentos, à realização de um reestudo da estrutura de custos dos projetos. Tal exigência, evidentemente, será feita.
No geral, não se leva em conta que a proposta de Serra envolve uma ação de parceria financeira e administrativa com o governo do Estado, além da participação da área privada como acontece no caso da extensão do metrô a Tucuruvi.
É falacioso o raciocínio segundo o qual, para cumprir o programa de ampliação, seriam construídos mais quilômetros de linha do que já foi feito em 25 anos -raciocínio este que traz implícita a dúvida quanto à possibilidade de realização do programa.
No caso, a média de quilometragem não serve como parâmetro de comparação, à medida que períodos de produção zero -a exemplo do ocorrido durante o governo Fleury, quando não se construiu um único centímetro de linha- seguiram-se a períodos extremamente produtivos -como foi o caso do governo Franco Montoro, que fez 17 quilômetros.
Além disso, a reportagem esquece que aproximadamente metade dos cerca de 50 quilômetros previstos refere-se à transformação da linha Osasco-Jurubatuba de trem metropolitano da CPTM em metrô de superfície.
Qualquer pessoa com o mínimo bom senso pode perceber o fato de que é muito mais rápido e barato modernizar uma linha de trem que corre na superfície, em comparação com a construção de uma linha subterrânea ou que envolva desapropriações.
Há também de se ressaltar que apenas cerca de 800 metros dos 9,5 quilômetros da linha 5 (Capão Redondo-Largo 13) serão enterrados, sendo o restante construído em via elevada.
A comparação entre os custos de expansão do metrô e de implantação do projeto Sivam é infeliz. São projetos de natureza absolutamente distintas: o primeiro é dedicado ao transporte coletivo de massa na maior cidade do país, o segundo, à segurança nacional numa região de fronteiras semidespovoada.
Depois de cogitar a hipótese de o metrô apresentado no plano de Serra vir a ser mais caro que a média internacional, a reportagem diz que uma nova linha que está sendo construída em Paris terá custo maior que o do trecho Paulista-Vila Sônia, mas isso porque o metrô parisiense 'vai funcionar totalmente informatizado'.
Ao contrário do que a equipe de reportagem da Folha pode estar pensando, a operação nas novas linhas do metrô paulistano não será manual.
A dúvida sobre a capacidade financeira da prefeitura em participar da expansão do metrô não tem cabimento. Em nenhum momento Serra afirmou que a prefeitura investiria cerca de R$ 3 bilhões nas obras, como o texto da reportagem dá a entender.
Mas a capacidade financeira da prefeitura é inquestionável. Tanto que a atual gestão pôde contar com mais de R$ 1 bilhão apenas para construir dois túneis sob o parque Ibirapuera. E só o custo da avenida Águas Espraiadas é superior ao trecho de metrô do Largo 13 a Capão Redondo."
Lu Fernandes, coordenadora de Comunicação da campanha de José Serra (São Paulo, SP)

Resposta da jornalista Patricia Zorzan - 1) Em momento algum o programa de governo do candidato José Serra menciona revisão de custos do projeto do Metrô -na realidade, nem sequer diz que é continuidade de propostas alheias. Tal "exigência" também não foi mencionada por Arnaldo Madeira, vice de Serra e indicado pela assessoria tucana para falar sobre o projeto. 2) A média de quilômetros construídos foi usada para que o leitor possa ter parâmetros do que já foi feito e do que é prometido em campanha eleitoral. 3) A proposta de transformação da linha de trem Osasco/Jurubatuba em metrô de superfície, que não era objeto da reportagem, está contemplada em quadro que acompanhava o texto. 4) A comparação feita com o custo do projeto Sivam permite ao leitor dimensionar o volume de gastos do programa. 5) A reportagem da Folha não informou que, se concluído, o projeto de metrô de Serra/Fleury/Quércia/Montoro será manual. 6) A reportagem não disse que falta capacidade financeira à prefeitura para executar o projeto.

Desvalorização da vida
"O que gera mais crime e mais violência são: 1) impunidade para contravenção, pequenos crimes e comportamentos desviados e 2) desvalorização da vida, com centenas de pessoas jogadas no chão, dessensibilizando os demais cidadãos, que passam a achar isso normal."
Silas Fonseca do Valle (São Paulo, SP)

Distorção
"Achei lamentável que a predisposição positiva de ex-colegas do economista Celso Pitta, atual candidato à Prefeitura de São Paulo, tenha sido distorcida pelo jornalista Wilson Tosta, em reportagem publicada em 18/8.
Este sub-reitor, em particular, que encaminhou o jornalista a outros ex-colegas de Celso Pitta, considera desautorizadas palavras e comentários que lhe foram imputados, que não traduzem o respeito e a consideração merecidas pelo ex-colega e administrador de inequívoca competência."
Luís Otávio de Figueiredo Façanha, sub-reitor de Patrimônio e Finanças da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)

Resposta do jornalista Wilson Tosta - As declarações de ex-colegas de faculdade de Celso Pitta foram reproduzidas com fidelidade. Os ex-colegas entrevistados na reportagem foram procurados por iniciativa da Folha, que já dispunha de uma lista com seus nomes quando entrevistou o professor Façanha.

Incoerências políticas
"Os interesses pessoais, mais do que as necessidades da população, deram à política, mais uma vez, uma cara bizarra: Maluf aceita um ministério no governo Fernando Henrique, mas é contra Fernando Henrique na reeleição; o PFL cancela o seu compromisso com o Fernando Henrique em São Paulo, enquanto na Câmara Federal procura assimilar a pessoa de Fernando Henrique.
Esse cenário aberrante cria quadros tão curiosos que leva o próprio eleitor a tomar posições sem pé nem cabeça."
Luiz Taddeo (São Paulo, SP)

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