São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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"Omstrab" traz bailarinos-operários

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LYON

A 7ª Bienal da Dança de Lyon (França) se encerra neste fim-de-semana com três espetáculos que confirmam a diversidade de propostas que o evento vem apresentando desde sua inauguração, ocorrida no dia 12 de setembro.
Hoje, às 18h30, a companhia dirigida por Fernando Lee mostra "Omstrab", que empolgou o público em sua estréia, na última quinta-feira.
Às 20h30, há duas opções: a Cia. Atores Bailarinos, dirigida por Regina Miranda, e a Cie. Castafiore, dirigida por Marcia Barcellos.
Até então restrito à programação de dança do Centro Cultural São Paulo, "Omstrab" chegou a Lyon com um depuramento surpreendente.
No espetáculo, quatro rapazes interpretam operários urbanos, que estabelecem uma comunicação tanto anárquica quanto hilariante.
Sem adornos, Fernando Lee soube tirar proveito de gestos em estado bruto para expressar o universo dos trabalhadores das metrópoles, cujos encontros podem resultar em disputas, brincadeiras ou momentos de solidariedade.
Sons produzidos pelos próprios intérpretes, por vezes originados em ferramentas de trabalho como o serrote ou baldes de plástico, permeiam a trilha sonora, que ainda inclui o linguajar incompreensível mas cheio de sentidos dos personagens.
Companhias
Em contrapartida, o rigor expressionista de Regina Miranda também encontrou eco entre o público europeu.
Após apresentar um programa que incluiu as coreografias "Exílio" e "Moderato Cantabile", inspirada na literatura de Marguerite Duras, a Cia. Atores Bailarinos, fundada por Regina há 15 anos, teve que voltar ao palco dez vezes para agradecer os intermináveis aplausos.
Já a Cie. Castafiore revelou o trabalho que a paulistana Marcia Barcellos vem desenvolvendo na França em parceria com o compositor parisiense Karl Biscuit.
O espetáculo "Almanach Bruitax", apresentado na Bienal pelo Castafiore, procura recriar o mundo fantasioso dos almanaques antigos.
Num ambiente surreal, objetos cênicos e personagens surgem e desaparecem como imagens de sonho.
À fusão harmoniosa entre dança e música, que nascem juntas nos espetáculos de Marcia e Biscuit, somam-se luzes, cenários e figurinos que compõem um visual deslumbrante, cuja disposição espacial remete às figuras aéreas de Miró ou aos móbiles de Alexander Calder.
Como sugere no subtítulo, "Signos Transitórios", o espetáculo da Cie. Castafiore também procura representar, na essência, o caráter efêmero e nem sempre decifrável das imagens e informações que circulam pelo mundo atual.

A jornalista Ana Francisca Ponzio viaja a convite da organização da Bienal.

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