São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Teatro Laboratório apresenta "Bibelôs"

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

"Bibelôs", com texto e direção de José Eduardo Vendramini, é um espetáculo produzido pelo Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, com alunos da ECA e da EAD (Escola de Arte Dramática).
Para quem começa na arte dramática, os jovens atores estão bem como bibelôs, que vivem sobre três paninhos da penteadeira de Madame Patroa.
"Bibelôs" é uma comédia em que os bonecos de porcelana ganham vida na ausência de uma cortesã e reproduzem as relações entre nobres, camponeses e artistas na época dos reinados europeus.
Há dois bibelôs que representam a nobreza, a Marquesa e o Marquês, um trio de comediantes de teatro mambembe e um casal de camponeses.
O tema central do enredo é a insatisfação dos bibelôs por pertencerem a uma madame decadente, que cuida precariamente de seus objetos de decoração.
Aqui e ali, os diálogos tecem comentários sobre políticos brasileiros, o que provoca uma certa confusão de lugar: estão no Brasil ou na Europa, na casa da cortesã?
As referências são sutis para as crianças e pouco desenvolvidas para os adultos. A delimitação do espaço é confusa, uma vez que as principais referências são sobre a vida na corte francesa.
O melhor do espetáculo é o cuidado no acabamento do cenário e do figurino (do acervo ECA-CAC-EAD e assinados por Rafael Rios Filho, Paulo Basílio e Claudette Neves) e a direção dos atores, que conseguem ser engraçados e têm boa movimentação em cena.
Marquês (Tomaz Espada) e Marquesa (Gláucia Libertini) são espertos e lutam para dominar os artistas e camponeses. As crianças gostam quando eles se cumprimentam de forma caricatural.
Os camponeses são o casal bufão e ingênuo. Cabe ao Jardineiro (Augusto Gomes) fazer o público rir com seu comportamento grosseiro. É o personagem de maior empatia com o público.
Sua mulher, a Florista (Bianca Corona), quer tornar-se cortesã, sem saber o significado do papel, por influência do Marquês, que deseja tê-la como amante.
Tomaz Espada perde a oportunidade de fazer o espectador entender o que significa ser cortesã, que o público-alvo não compreende. Espada poderia pôr mais ênfase nas ironias para conquistar didatismo.
Os artistas -Arlequim, Pierrô e Colombina- representam a consciência dos bibelôs. O mais esperto deles é Arlequim (Beto Oliveira), como convém a seu papel de fazedor de chistes, e o ator mais seguro.
O tipo ingênuo do Pierrô que Frederico Foroni interpreta é o que mais destoa do grupo. Cansa ver o teatro adulto imitando fala de criança. Revela uma visão sobre a infância, meio tatibitate, que não corresponde à realidade.
"Bibelôs" encanta as crianças porque são bonecos de uma penteadeira. Mas o tema da peça está longe de ser do alcance do público.

Peça: Bibelôs
Direção: José Eduardo Vendramini
Elenco: Bianca Corona, Gláucia Libertini, Lucienne Guedes, Augusto Gomes e outros
Onde: Teatro Laboratório da ECA, sala Alfredo Mesquita (av. Profº Luciano Gualberto, travessa J, 215, Cidade Universitária, tels. 818-4375 e 818-4376) Quando: sábados e domingos, às 16h
Quanto: grátis

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