São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Falabella se diverte como autor

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Escrever novela nunca foi tão divertido -pelo menos quando a trama sai da cabeça de Miguel Falabella, 38. Sem se intimidar com o volume de trabalho ou com a obrigação de conquistar altos índices de audiência, o autor confessa que morre de rir ao traçar o destino dos personagens de "Salsa e Merengue".
Falabella escreve a nova novela das sete da Globo em parceria com Maria Carmem Barbosa. "Passamos umas cinco horas por dia juntos. É uma loucura. Um empurra o outro da cadeira dizendo: 'Espera aí, esse diálogo é meu. Deixa eu terminar essa fala, vai!'."
A dupla chega a encenar no apartamento de Maria Carmem enquanto cria os diálogos. "Algumas situações nós inventamos lendo trechos em voz alta. Eu leio a parte de determinado personagem, ela responde e assim nós vamos contracenando para sentir a história. É muito doido", conta Falabella.
O ator não vê problemas em conciliar o trabalho de autor de novela com as gravações de "Vídeo Show", "Sai de Baixo" e com o espetáculo "Louro Alto Solteiro Procura" pelo interior de São Paulo. "Quando você faz com prazer, encontra tempo para tudo. Ainda faço ginástica, namoro, beijo na boca e sou feliz."
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.
*
Folha - Como está sendo a experiência de escrever novela?
Miguel Falabella - É um processo interessante e trabalhoso. Eu e a Carminha queremos imprimir qualidade nos diálogos e isso significa trabalho dobrado. Mas está sendo prazeroso ao mesmo tempo.
Estamos respeitando os clichês do folhetim. É cinema de lágrimas mesmo. Não temos a intenção de mudar as características da telenovela. Pelo contrário, sabemos que temos um grande folhetim nas mãos.
A produção até faz muita pesquisa para nos auxiliar e eu digo que não precisa. A história não precisa desse compromisso com a realidade. É ficção.
Folha - É complicado escrever uma novela a quatro mãos?
Falabella - É muito engraçado. Não dá para contar. A gente briga para ver quem senta diante do computador. O problema é que eu e a Carminha somos loucos e temos histórias demais. Temos de diminuir o volume. Com certeza, nunca vamos sofrer de falta de assunto.
Nós nos reunimos no apartamento da Carminha no início da semana para decidir o que vai acontecer com os personagens nos próximos capítulos. Boa parte nós escrevemos juntos. Mas, quando eu tenho insônia, por exemplo, costumo adiantar algumas cenas. Ela escreve algumas sozinha também.
Folha - Qual é o ritmo de "Salsa e Merengue". Segue a linha alucinante de "Vira Lata"?
Falabella - Não. Estamos dando um ritmo de alta comédia, mais tranquilo. O nosso humor é diferente. É algo que tem a ver com a música da língua. Nós sempre nos preocupamos com isso e acho que esse é o fator determinante do nosso sucesso no teatro, em última análise.
Quando vê uma peça nossa, o público reconhece a sua música. Isso eu não sei explicar. Isso vem. Sem nenhuma modéstia, eu acho que o nosso texto o ator não precisa mudar. Pode falar como está ali e vai ficar bom.
Folha - A maioria das novelas começa bem, mas não consegue manter a qualidade por muito tempo...
Falabella - "Salsa e Merengue" começa com um impacto, quando Guilherme, um cara rico, dono de companhia de mineração, revela que o filho Eugênio é adotivo. O garoto sofre uma intoxicação por urânio e precisa de uma medula compatível para fazer um enxerto.
Já estamos no capítulo 30 e até aí é uma porrada atrás da outra. Já temos a história organizada na cabeça para não deixar a peteca cair. Falando como ator, eu acho que o fundamental em uma novela são os personagens. Quando eles têm universo, eles acabam falando por si mesmos.
E os nossos personagens são muito legais. A Cristiana Oliveira tem um ótimo papel, ela faz uma modelo-manequim-piranha. Ela é educada pela tia e pela mãe para se dar bem e pegar um homem rico. É uma vilã moderna.
A Débora Bloch faz uma herdeira absoluta de um conglomerado de empresas muito engraçada. É uma mulher alucinada. Suas falas são primorosas, pérolas mesmo. A Patrícia França faz a heroína que vai fazer par romântico com Eugênio. A novela é divertida e tem todos os elementos para dar certo.
Folha - O "Sai de Baixo" tem sido criticado por apresentar episódios apelativos...
Falabella - Não vou falar sobre isso. Só polemizo sobre o preço do chuchu na feira. O Brasil não gosta de sucesso, isso é uma verdade. O brasileiro gosta de ser perdedor. Como dizia o Tom Jobim, sucesso no Brasil é ofensa pessoal. A gente acerta um e erra outro. O programa tem uma grande empatia com o público e ponto final.

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