São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 1996
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Real ajudou, mas a cidade vai precisar de mais investimentos

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A estabilização proporcionada pelo Plano Real foi melhor para a cidade de São Paulo do que para o interior do Estado. Sem inflação, a importância da capital na atividade econômica estadual voltou a crescer, após anos de queda.
Vários indicadores apontam nessa direção: aumento da arrecadação de impostos, maior consumo de energia elétrica e aumento da taxa de ocupação da mão-de-obra.
Embora essa recuperação da importância relativa da capital deva-se, em parte, à queda da atividade no interior, ela foi benéfica para a atual administração municipal, que viu suas receitas crescerem.
No curto prazo, a tendência deve beneficiar também o futuro prefeito. Mas, passado o efeito inicial do real, o eleito terá de adotar uma estratégia econômica para evitar que a cidade retome o destino anterior.
Por ora, tudo é festa. Até 1994, a cidade vinha perdendo participação no bolo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) recolhido no Estado. No ano da edição do real, São Paulo registrou sua menor participação na receita estadual: 36,8%.
Segundo dados da Secretaria da Fazenda, neste ano, a participação da capital no total do ICMS arrecadado em São Paulo já subira para 45% até julho.
Vários fatores contribuíram: o aumento das importações, mudanças na legislação tributária, a retomada da produção de indústrias que tinham capacidade instalada ociosa e o aumento do consumo de bens duráveis.
Outro indicador importante do nível de atividade econômica, o consumo de eletricidade aponta na mesma direção. A participação da capital no total de energia consumida voltou a crescer com o real, após quatro anos de quedas consecutivas.
A cidade de São Paulo ainda não retomou os níveis de participação relativa que tinha no princípio da década, mas o aumento foi significativo: passou de 25,7% em 1994 para 26,3% em 1996. O crescimento foi maior na energia consumida nas casas (15% desde 1995) e no comércio e serviços (18%). A explosão de vendas de eletrodomésticos, que expandiu a atividade comercial, aumentou o consumo residencial.
Ao mesmo tempo em que a produção e o consumo aumentavam na cidade, o desemprego diminuía na região metropolitana, mas não no interior do Estado. Ao menos é o que apontam os dados da última Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar do IBGE.
Segundo a Pnad, a taxa de desemprego na Grande São Paulo no ano passado era de 8,4%. Em 1992, ano do impeachment, ela havia chegado a 10,4%. Pelas contas do IBGE, houve uma redução de 110 mil desempregados nesse período.
No interior paulista, porém, aconteceu o inverso. Entre 1992 e 1995, segundo dados do IBGE, cresceu em 76 mil o número de desempregados.
Em parte, isso se explica pela concorrência sofrida por vários setores da indústria, como calçados e têxtil, instalados em cidades como Franca e Americana, que sofreram a concorrência direta dos produtos importados.
A mesma pesquisa do IBGE indica outra explicação para o fenômeno: a capital deixou de ser um mercado de trabalho atraente para os paulistas do interior.
Entre 1992 e 1995, diminuiu a fatia da população paulistana formada por pessoas nascidas em outras cidades do Estado. Desde 1992, houve um corte de vagas oferecidas principalmente a trabalhadores qualificados nas indústrias da capital.
O horizonte, entretanto, não é azul. Passado esse efeito pós-estabilização e preenchida a capacidade ociosa que havia na economia paulistana, a capital precisará de novos investimentos. Ou corre o risco de seguir o mesmo caminho do interior.

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