São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 1996
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Biblioteca que não volta

JOÃO UBALDO RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Sempre que volto a Salvador, me revelo um velho caturra incurável. Rabugento e de mau humor, fico reclamando porque a cidade não é a mesma de mais de 30 anos atrás, quando meus companheiros de geração e eu éramos poetas, prosadores e artistas invencíveis -e íamos mudar o mundo.
Claro que não mudamos nada, o mundo é que nos mudou e claro que a cidade é hoje muito diferente da dorminhoca Salvador de então, de bondes, footing no Farol da Barra e boêmios românticos.
A biblioteca pública ficava na Praça Municipal. Lá tive a glória de fazer parte da turma que se reunia nela. Lembro o poeta Carlos Anísio melhor, o finíssimo intelectual José Pedreira, Nélson de Araújo, tanta gente admirável que já se foi. Já conheci Caetano, mais moço do que eu, chegando de Santo Amaro, sem saber ainda que era Caetano. Ele não é velho caturra, sempre cavalga com galhardia os novos tempos. Mas acredito que, se eu o convidar, ele topa ir comigo à Praça Municipal numa madrugada dessas, para ver nossos fantasmas queridos e conversar como hoje não se conversa mais.

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