São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Morenaço

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Celso Pitta vestiu a sua mais grave solenidade, para o juramento, ao vivo na Cultura e na Bandeirantes:
- Prometo cumprir e fazer cumprir a Constituição da República, a legislação... defendendo a justiça social, a paz e a igualdade de tratamento de todos os cidadãos.
Quase ao mesmo tempo, na tela ao lado, ligada no SBT, entrou Cláudia Spinelli, a mesma apresentadora que vendeu Celso Pitta aos eleitores, na campanha. Que chegou a chorar por ele, no último comercial eleitoral.
Vende outros produtos, agora. Com o mesmo figurino da campanha, na mesma posição na tela, o mesmo cabelo, o mesmo sorriso:
- Em 96 a Tele-Sena premiou, só no Estado de São Paulo, 973 pessoas. Foram prêmios por menos pontos, mais pontos, instantâneos e rodas da fortuna. Agora, em 97, compre a sua Tele-Sena. Confie. Acredite.
Poucas horas depois, lá está Cláudia Spinelli outra vez na televisão, na estréia de outro comercial. Agora uma entrevista, como tantas na campanha, só que com um pacote de café. Ela abre:
- O entrevistado de hoje é um morenaço que está fazendo o maior sucesso. Com vocês, Torre Facto.
Celso Pitta, a Tele-Sena, o "morenaço" Torre Facto, não importa o que se venda, desde que se venda bem.
Confie. Acredite.
*
A televisão mostrou Paulo Maluf em alegre conversa com o publicitário Nelson Biondi. Na sequência, o discurso, e o presidenciável não escapou da cilada que derrotou Lula:
- Acredito no Plano Real e em tudo que se faça para preservá-lo. Mas não à custa do desemprego do trabalhador brasileiro...
Mais falou e mais lembrou Lula, quando o petista buscou aparentar apoio ao Plano Real. Como em 93, o "mas" soa muito mais alto e sincero do que o "acredito".

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