São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Passeio de suecos quase vira incidente diplomático

Segurança de FHC obriga navio-escola a deixar ilha

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A FERNANDO DE NORONHA

A segurança do presidente Fernando Henrique Cardoso quase provocou um incidente diplomático no último dia do ano. Ela obrigou os tripulantes de um navio sueco a deixar a ilha de Fernando de Noronha, alegando que não tinham autorização para aportar em território brasileiro.
Os suecos chegaram no início da tarde e ancoraram o navio voltado para a casa onde está hospedado o presidente. Um grupo desceu e, logo depois, foi forçado pela segurança a retornar, sob alegação de que não tinha visto de entrada no Brasil.
O H.M.S Carlskrona é uma fragata caça-minas transformada em navio-escola. Teve de recuar e ancorar à distância, até o início da noite, quando o Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, confirmou que seus tripulantes eram convidados do governo brasileiro.
Os 150 cadetes fazem uma viagem ao redor do mundo e, além da ilha, devem aportar no Rio de Janeiro. A chegada inesperada a Fernando de Noronha também mobilizou o Ibama.
Em Fernando de Noronha, o número de visitantes é limitado em 420, para controlar o efeito das depredações. A ilha está lotada, por ser período de alta estação. Para evitar a superlotação de turistas, o Ibama autorizou os marinheiros suecos a visitar a ilha em grupos de 20 de cada vez.
À noite, depois da liberação diplomática, os suecos colocaram novamente o navio voltado para a casa onde está FHC e acenderam uma iluminação especial que transformou a embarcação numa espécie de árvore de Natal.
Ontem pela manhã, para selar a paz, FHC recebeu o oficial-comandante do navio, Rolf Edwardson, para uma conversa na varanda de sua casa.
Despachos
Além do sueco, FHC teve três outros despachos burocráticos na manhã do primeiro dia do ano. Os visitantes eram recebidos com suco de acerola, cafezinho e água de coco. À tarde, com a mulher e o neto, visitou o Buraco do Inferno, um local para mergulhos. Na noite de réveillon, FHC esteve no bar do Cachorro, ponto tradicional da ilha, para conversa rápida com turistas.
Federalização
O anúncio de FHC de que acha "razoável" Fernando de Noronha retornar à condição de território federal mobilizou a comunidade local em torno do tema, e pode resultar num plebiscito.
Ontem, FHC recebeu representantes de dois grupos que defendem pontos de vista diferentes quanto à administração da ilha, que foi da União entre 1942 e 1988, quando retornou ao governo de Pernambuco.
A Assembléia Popular Noronhense, com nove integrantes -não reconhecida oficialmente pelo governo pernambucano-, quer que a União volte a tomar conta da ilha.
O Conselho Distrital, que tem sete membros -e representa a ilha oficialmente-, acha que Noronha deve continuar ligada a Pernambuco, mas com autonomia financeira. A ilha, que tem cerca de 1.800 moradores, recolhe aproximadamente R$ 100 mil por mês, mas gasta R$ 250 mil. Só a geração de energia elétrica, por usina termoelétrica, gasta R$ 100 mil, arrecadando apenas cerca de R$ 20 mil mensalmente.

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