São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Metade dos aviões pequenos voa irregular

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Com 4.725 aviões em condições irregulares -quase a metade da frota de cerca de 10 mil- a aviação executiva brasileira vive um momento de pânico. Estão incluídos nessa categoria os aviões de empresas, transporte privado e também táxi aéreo. Nos últimos três anos, 229 pessoas morreram em acidentes em aviões desse tipo.
Essa frota irregular está teoricamente proibida de decolar, mas na prática não é isso o que acontece.
Fora do alcance da fiscalização, boa parte destes aviões escapa ao controle e voa rotineiramente, expondo os passageiros a risco.
A maioria dos aviões considerados irregulares pelo DAC (Departamento de Aviação Civil da Aeronáutica) é composta por jatinhos e pequenas aeronaves de particulares e empresas de táxi aéreo.
Somente em 96, a frota de jatinhos particulares e táxi aéreo foi responsável por 51 acidentes (até 30 de novembro), com 65 mortos.
Em 95, segundo documentos obtidos no Cenipa (Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes), da Aeronáutica, foram 81 vítimas fatais em 68 acidentes.
"Tem fazendeiro novo-rico por aí que cuida do avião como quem lida com um trator", diz o coronel Douglas Ferreira Machado, chefe do Cenipa. "O problema com esse setor é de falta de educação, as pessoas não estão preparadas para possuir uma aeronave".
Em 94, o número de mortes na aviação executiva também foi alto: 83. Dados indicam que a aviação de pequeno porte mata por ano número equivalente a um grande acidente da aviação comercial.
Com menos de dois acidentes graves por cada um milhão de decolagens, o setor comercial brasileiro está no mesmo patamar da aviação de países da Europa.
Na área dos aviões particulares, incluindo aí desde os que transportam executivos de grandes empresas até os utilizados em garimpos, o quadro é de pane.
Estima-se que a relação, no mundo dos pequenos aviões, seja de cerca de 20 acidentes graves para cada milhão de decolagens. E não estão contabilizados nesse caso muitos acidentes que acontecem na selva, por exemplo, longe de qualquer fiscalização.
O principal problema constatado pelo DAC é a falta de manutenção ou a manutenção inadequada.
Segundo pilotos e mecânicos ouvidos pela Folha, os donos de aviões fogem da manutenção ou procuram oficinas que "fajutam" o serviço a pedido deles próprios.
A Folha constatou, junto a mecânicos que preferem não se identificar, que um dos principais problemas de manutenção é a troca de mangueiras por onde passa o combustível dos pequenos aviões.
Uma mangueira desse tipo deve ser trocada a cada cinco anos, 1.000 horas de vôo ou durante a revisão geral do motor. Não é o que acontece. É cada vez mais comum mecânicos verificarem aviões com estas peças vencidas há 12, 15 anos.
Anualmente, os donos de avião são obrigados a realizar um serviço chamado IAM (Inspeção Anual de Manutenção). É nesse momento que acontecem irregularidades.
Os proprietários negociam para obter a legalização sem cumprir todos os itens necessários.

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