São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Gena Rowlands é candidata ao Oscar em 97

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando ela começa a falar dos filhos, do falecido marido John Cassavetes e da bem-sucedida carreira de atriz, Gena Rowlands em momento algum é auto-indulgente.
Ela parece pensar que seu premiado currículo foi uma criação coletiva. "Eu, John, as crianças e os amigos fazíamos filmes o tempo todo", afirma ela, lembrando que a casa em que viviam serviu de cenário para várias criações do marido. Juntos, eles cristalizaram a base do cinema independente norte-americano há quase 30 anos.
Se as previsões da crítica especializada se cumprirem, Gena pode receber em 1997 seu primeiro Oscar por "Unhook the Stars".
Parceria
Gena Rowlands e John Cassavetes protagonizaram uma das mais frutíferas uniões do cinema desde que se conheceram no curso da American Academy of Dramatic Arts em New York no final dos anos 50.
Em 1961 se mudaram para Hollywood e em 1963 ela atuava pela primeira vez em "A Child is Waiting", dirigida por ele. Vários outros títulos se seguiram, incluindo "Gloria" e "Woman Under the Influence".
John sofreu um ataque cardíaco fulminante em 1989 aos 59 anos. Gena nunca mais casou, mas filmou com diretores como Woody Allen e Jim Jarmusch. "São todos maravilhosos", generaliza.
"Maravilhosa é ela", rebate o ator Seymour Carter. Eles atuaram juntos em "Minnie and Moscowitz" e cultivam desde então uma intensa amizade. "John me avisou para deixar o cabelo crescer que iria escrever um papel para mim", lembra Carter. "Pedi que ele incluísse uma cena de beijo, para que eu pudesse agarrar Gena". Segundo ele, foi o boca-a-boca mais longo de sua carreira.
Após acumular duas indicações para o Oscar, além de ter recebido um Globo de Ouro e vários prêmios de melhor atriz em festivais internacionais, Gena encara com naturalidade a possibilidade de levar para casa a tão cobiçada estatueta dourada da Academia.
A única ironia é que se for eleita a melhor atriz do ano, ela subirá ao palco da Academy of Arts and Sciences para agradecer a outro Cassavetes. Foi o filho mais velho, Nick, que escreveu e dirigiu o excelente "Unhook the Stars".
Novo diretor
"Colocá-la no papel principal foi para mim uma escolha óbvia, natural", afirma Nick. "Por que quebrar a cabeça escolhendo outra atriz se minha melhor opção está a meu lado?", completa.
Foi assim que Gena encarnou Mildred, uma viúva que tenta preencher o vazio deixado em sua vida quando os filhos crescem e saem de casa. Ela se envolve com a vizinha Monica (Marisa Tomei) e o filho desta, J. J. (Jake Lloyd) criando uma espécie de família paralela. Na sua nova vida, ela ainda tem um breve romance com o caminhoneiro Big Tommy (Gerard Depardieu).
Depardieu é fã confesso da obra de John Cassavetes e se comprometeu a interpretar o papel antes de ler o roteiro. Sua distribuidora tem os direitos sobre todos os filmes do falecido diretor na França.
Nick Cassavetes admite que conhecendo o método de trabalho da mãe, jamais duvidou que ela manteria distância e obedeceria suas demandas enquanto diretor. "Ela é uma profissional formada e não houve nenhum problema entre nós", lembra ele. "Eu lhe dava coisas impossíveis para fazer e ela apenas fazia. Todos os dias".
Gena rebate tantos elogios afirmando ter orgulho da família tão criativa. Suas outras filhas, Alexandra e Zoe, são respectivamente cantora e escritora. "O problema do cinema norte-americano é que temos grandes atores e péssimos papéis", cutuca ela. "E ótimo quando um diretor como Nick me oferece de bandeja um personagem tão interessante quanto Mildred".
Protetora
O filme é uma sucessão de pequenas surpresas. "Eu sou ótim com crianças", afirma a ultra-conservadora Mildred para sua vizinha Monica (Marisa Tomei). "É quando eles crescem que eu perco o jeito".
Tais credenciais são o suficiente para que a desvairada Monica se sinta à vontade para entregar o filho J. J. (Jake Lloyd) a Mildred enquanto trabalha.
Sendo em tudo opostas, as duas mulheres encontram no carinho por J. J. o porto-seguro para seus sentimentos tão desprezados. Monica acaba de ser abandonada pelo marido, após inúmeros bate-bocas na calçada e hematomas pelo rosto. Mildred é odiada pela filha adolescente, que acaba saindo de casa após lhe dizer verdades.
Só que como Monica trabalha em horários absurdos, Mildred assume as funções de uma babá sem pagamento. O vazio de sua ultra-organizada casa suburbana é rapidamente preenchido pela companhia de J. J. Eles passam a entregar jornais, jogar damas, ler a enciclopédia. Mildred se sente segura ao ter seu amor aceito. J. J. se delicia com tanta atenção.
Agradecida, Monica leva a viúva para uma noitada e a apresenta ao caminhoneiro canadense Big Tommy (Gerard Depardieu). O casal tem um romance, com flertadas que certamente se tornarão clássicas na história do cinema.
Amada e amando, Mildred acredita que tudo vai bem no subúrbio de Salt Lake City onde todos moram. Mas aí o pai de J. J. volta para casa arrependido das surras que descarregava na desbocada Monica. De repente Mildred percebe que precisa agarrar as rédeas de sua vida.

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