São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Zé Celso; Cacá Carvalho; Antônio Nóbrega; Pedro Vicente; Marco Antônio Braz; Enrique Diaz

NELSON DE SÁ

Depoimentos
Zé Celso
"No geral, se deve à pouca excitação nas salas, e as que conseguem têm um tabu. Diante do estraçalhamento do Caetano, o público pagante, adulto, R$ 20, criou um pacto de não-vamos-ver. Não foi, mas veio um público que furou o bloqueio. A temporada de "Bacantes" foi maravilhosa. Um público pequeno, mas novo. O grande ponto é o enfeitiçamento de que as pessoas não são nada, fora da rede. É mentira. A vida é produtiva por todos os lados. Cabe ao teatro o desenfeitiçamento."

José Celso Martinez Corrêa é diretor de "Ham-Let" e "Bacantes".

Cacá Carvalho
"Existe uma certa qualidade de espetáculo que o público não suporta mais. Muitas vezes o teatro chega a ser ingênuo, na tentativa de copiar o cotidiano de uma maneira tão boba. Muitos dos nossos colegas pagam por não ousar, no gênero do teatro de mercado. Mas eu não tenho uma postura xiita. Vou fazer um Molière, "Don Juan", com Edson Celulari. Acredito que existe a intenção de fazer, também para o grande público, coisas com qualidade. Mas de modo geral o produto é muito raso."

Cacá Carvalho é diretor e ator de "O Homem com a Flor na Boca".

Antônio Nóbrega
"Eu tenho para mim que os ingressos estão se tornando muito caros. A comunidade de espetáculos poderia buscar alternativas de baratear o ingresso, em campanha de popularizar o teatro. Também acho que o teatro cosmopolita, sobretudo o experimental, corre o risco de ficar chato. O conceitualismo tende a provocar uma fuga para outros tipos de diversão. E o teatro é diversão. A gente tem que se conformar ao público, não perder de vista o ponto da diversão no teatro."
Pedro Vicente "Os ingressos são caros, e existe o medo da violência na classe média. A maioria dos teatros se localiza em lugares perigosos, não burgueses. Para uma pessoa ir ao teatro Paiol, no centro da cidade, ela tem que se corajosa. E o papel da imprensa é fundamental. Afinal, é uma arte tão importante, no espírito da cidade. Muitas vezes os cadernos culturais dão importância a coisas muito fúteis. Quanto mais matérias sobre a última banda de imbecis que estourou na Noruega, pior."

Antônio Nóbrega é ator de "Brincante", "Figural" e "Na Pancada do Ganzá".

Pedro Vicente
"Os ingressos são caros, e existe o medo da violência da classe média. A maioria dos teatros se localiza em lugares perigosos, não burgueses. Para uma pessoa ir ao teatro Paiol, no centro da cidade, ela tem que se corajosa. E o papel da imprensa é fundamental. Afinal, é uma arte tão importante, no espírito da cidade. Muitas vezes os cadernos culturais dão importância a coisas muito fúteis. Quanto mais matérias sobre a última banda de imbecis que estourou na Noruega, pior."

Pedro Vicente é autor de "Banheiro" e "PromisQuidade".

Marco Antônio Braz
"O Nelson Rodrigues já profetizava que o que ia acabar com o teatro era muita inteligência e pouca realização teatral. A questão do divertimento é fatal. Virou antônimo de divertimento ir ao teatro. Há que se ter uma relação com o público. E falta subvenção ao público. Os teatros que tiveram público neste ano foram os que tinham ingresso subsidiado, como o Centro Cultural São Paulo. E há o fator violência. No Rio, houve salas que se esvaziaram por assalto no estacionamento."

Marco Antônio Braz é diretor de "Perdoa-me por Me Traíres" e "Viúva, Porém Honesta".

Enrique Diaz
"É uma coisa muito reincidente no teatro. A gente sempre tem fases. Fora a questão da linguagem, eu acho que há questões de transporte, segurança e estímulo. Uma série de atividades que dizem respeito à cidadania, em que o governo pode agir, sim. Todo um trabalho poderia ser feito para organizar o teatro de um modo mais estruturado, para ter um parâmetro mínimo de segurança, mecanismos que somam para criar um hábito do público, para enfrentar a defasagem do público adolescente."

Enrique Diaz é diretor das peças "Melodrama" e "A Bao A Qu".

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