São Paulo, quinta-feira, 2 de janeiro de 1997
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Peru e guerrilha radicalizam posições

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

As negociações para a solução da crise dos reféns em Lima, Peru, voltaram à estaca zero. Depois de uma aparente flexibilização, o governo peruano e o MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) radicalizaram suas posições e passaram a defender os mesmos pontos que apresentavam no início da crise.
Em entrevista a um pequeno grupo de fotógrafos e cinegrafistas, o líder do MRTA Nestor Cerpa Cartolini afirmou anteontem que a principal reivindicação do grupo continua a ser a libertação dos cerca de 450 "emerretistas" presos.
Apesar disso, mais sete reféns, três peruanos e quatro empresários japoneses, foram libertados ontem por volta das 17h30 (20h30 em Brasília).
Entre os peruanos estavam Juan Assereto Duaret, diretor da comissão governamental que promove as privatizações no país, e Alberto Yamamoto, ex-ministro da Saúde e presidente do Instituto Nacional de Desenvolvimento.
Mas ainda estão em poder da guerrilha 74 reféns, entre eles dois ministros de Estado, o chefe da Suprema Corte do país e um irmão do presidente Alberto Fujimori.
Cartolini disse que a solução da crise está nas mãos do governo peruano e deu mostras de que está disposto a resistir o tempo que for necessário. "Não falamos de prazos nem de execuções", disse.
Horas antes das declarações de Cartolini, Fujimori havia dado uma entrevista na qual reiterava sua posição. Segundo ele, a rendição dos guerrilheiros é condição para haver qualquer negociação.
"As expressões (de Fujimori) continuam sendo de confronto", afirmou Cartolini em resposta à entrevista do presidente. E acrescentou: "Não vejo uma possível solução imediata".
Entrevista
A entrevista do líder do MRTA não estava programada e ocorreu depois que 15 cinegrafistas e fotógrafos furaram o cerco policial e conseguiram entrar na casa do embaixador do Japão.
Após a entrada dos jornalistas, foram libertados mais dois reféns: o embaixador de Honduras no Peru, Eduardo Martell, e o cônsul argentino em Lima, Juan A. Ibáñez.
Na manhã de anteontem, a polícia havia permitido que vários grupos de 15 jornalistas fizessem fotos e imagens da fachada da casa. Os três primeiros grupos entraram e saíram depois de três minutos.
No quarto grupo estava o fotógrafo da agência "Kyodo News" Koji Harada. Enquanto os outros faziam imagens da casa, Harada levantou um cartaz com o nome da agência e correu até a porta, gritando "Kyodo News".
Assim que ele entrou, os demais fotógrafos e cinegrafistas também foram até a porta. Um guerrilheiro mandou que fizessem uma fila e disse que todos entrariam.
Os jornalistas se identificaram e foram levados até uma sala, segundo relato do fotógrafo Alejandro Belanguer, da agência "Sigma". Segundo Belanguer, Cartolini fez um longo discurso sobre as razões da tomada da casa e depois respondeu às perguntas.
Todos os guerrilheiros estavam fortemente armados e tinham o rosto coberto. Alguns traziam lança-foguetes.
Os jornalistas puderam ver três ambientes: o hall de entrada, uma sala grande e um outro cômodo onde foi instalada uma enfermaria. Os móveis da sala, segundo Belanguer, foram colocados nas janelas para formar barricadas.
O primeiro-ministro do Japão, Ryutaro Hashimoto, criticou ontem a entrada de jornalistas na casa. "Eles proporcionaram aos guerrilheiros uma oportunidade para fazer propaganda."
Cartolini afirmou que não havia tomado os reféns para conseguir asilo político em outro país.

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