São Paulo, segunda-feira, 6 de janeiro de 1997
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Releitura de Ek troca cisnes por bailarinas carecas

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

No original, "O Lago dos Cisnes" conta a história de uma princesa transformada em cisne por um feiticeiro, que ganha forma humana somente a partir da meia-noite, durante poucas horas.
É num desses poucos momentos que ela encontra um príncipe. Apaixonados um pelo outro, ele tenta, sem sucesso, resgatá-la para o mundo real.
Com seus arquétipos e suas conotações psicanalíticas, "O Lago dos Cisnes" vem autorizando interpretações como a do sueco Mats Ek, que em seu balé resolveu enfatizar a figura autoritária e castradora da mãe da heroína.
Em meio a um cenário surreal, os cisnes desplumados de Ek são representados por bailarinas carecas e descalças, que promovem uma dança patética.
Efeito mais original ainda Ek obteve na releitura de "Giselle, que foi apresentada em São Paulo em maio de 1989. Na temporada que o Cullberg Ballet deverá realizar no Brasil em 98, integrará novamente o programa, como carro-chefe do repertório do grupo.
Capaz de fazer de "Giselle" uma segunda obra-prima, Ek descartou a fórmula do amor impossível entre nobre e camponesa, para mergulhar numa trama complexa. Sua Giselle é uma mulher que luta pela própria emancipação. Ao tentar usar o amor para se libertar, fracassa e enlouquece.
"No original dessas peças há muitas coisas que vão contra tudo o que gosto. Ao mesmo tempo, elas me compelem a ultrapassar o nível formal, apontando dimensões além da aparência", afirma a francesa Maguy Marin, uma das coreógrafas mais importantes da atualidade, que já criou versões para "Cinderela" e "Coppelia".
Para Marin, os clássicos do balé a incomodam porque em geral abusam da mímica. "Também não gosto do caráter ilustrativo da música, destinada a explicar a ação. Por isso, em 'Coppelia', procurei escapar do aspecto anedótico tanto da coreografia quanto da música", diz.
Também baseada num conto de Hoffmann, "Coppelia" estreou no Teatro da Ópera de Paris em 1870. Seu enredo combina o romance entre um casal, Swanilda e Franz, e a história de um fabricante de bonecas. Uma delas é Coppelia, que adquire vida e seduz Franz.
"A partir das analogias da história, criei uma Coppelia que simboliza uma mulher que na verdade não existe. Ou seja, aquele mito que olhamos nas revistas e que permanecem inalcançáveis".
(AFP)

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