São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
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Velha guarda

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Antônio Candeia Filho (1935-78) atuou no samba carioca desde os 15 anos de idade, na Portela, sua escola (da qual foi compositor de vários sambas-enredo vitoriosos desde 53). Mas só veio a público em 65, quando Elizeth Cardoso gravou "Minhas Madrugadas", dele e de Paulinho da Viola.
Aí já se percebe a tradição à qual ele se filia: a de compositores de morro -Paulo da Portela, Cartola, Nelson Cavaquinho- e cantoras-sambistas -Elizeth, Clementina de Jesus-, que flui a Paulinho da Viola e deságua em Clara Nunes, intérprete de suas canções "O Mar Serenou", "Sindorerê".
Nos 80 e 90, Candeia gozou surto de redescoberta, pelas mãos sedentas em se filiar à tradição de Marisa Monte, que em 89 regravou "Preciso Me Encontrar".
Os CDs "Filosofia do Samba" e "Samba de Roda", produzidos na primeira metade dos 70 -a ABW exclui qualquer informação sobre as gravações originais-, são mostruários do peculiar samba de raiz produzido e cantado na Portela.
O antológico "Filosofia do Samba" pode ser resumido pela faixa-título (celebrizada por Paulinho da Viola em 71). É samba melódico e repleto de sabedoria ("Cego é quem vê só onde a vista alcança", diz), que se faz peça de resistência, no pós-tropicalismo, da arte à antiga da Portela.
"Vem É Lua" é já ciranda daquelas que fariam a fama de Clara Nunes. Abre alas para "Samba de Roda", em que Candeia renuncia à pureza portelense e estabelece histórico catálogo de maculelês, partidos altos, rodas de capoeira e motivos folclóricos da Bahia.
Soldado da PM na juventude (em 67, levou três tiros e ficou paralítico), morreu aos 43 anos, de infecção renal, deixando seis discos gravados. A modernidade dos 80 encarregou-se de turvar com presteza a lembrança de seus sambas. Mas ainda há quem os lembre.

Discos: Samba de Roda e Filosofia do Samba
Artista: Candeia
Lançamento: ABW
Quanto: R$ 18, em média

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