São Paulo, quarta-feira, 8 de janeiro de 1997
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Os reis empresariais

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

Lê-se como um romance "O Homem da Companhia". É uma história do executivo, desde o nascimento da idéia de "companhia" até os dias de hoje, contada com desenvoltura pelo jornalista inglês Anthony Sampson (Companhia das Letras, 1996).
No capítulo "Computadores: command ou escape", Sampson descreve o ambiente que propiciou o nascimento da IBM e depois da Apple e da Microsoft, e toda a atmosfera do Silicon Valley, com sua enorme instabilidade e mobilidade social. Ele não economiza referências culturais e literárias, documentando as diferentes épocas com trechos de obras literárias e artigos.
Sampson tem uma grande virtude: é britânico. O que nas mãos de um autor de best seller norte-americano se tornaria uma tediosa pilha de lugares-comuns e estatísticas vira magistral análise de costumes. Dedica igual atenção à Ásia, Europa e América, que têm culturas empresariais totalmente diferentes.
Infelizmente, ele não tem boas notícias. Para Sampson, quase toda a conversa otimista dos anos 90 tem um lado negro. A tão propalada descentralização das empresas acaba concentrando as decisões nas mãos de ainda menos pessoas.
Aumenta a responsabilidade dos empregados, mas não a autonomia. Os sindicatos estão se enfraquecendo, os níveis médios das companhias estão sendo enxugados e se delineia uma nova casta, a dos reis empresariais.
Sampson faz retratos rápidos, mas muito interessantes de figuras como Thomas Watson, que transformou a IBM num império. A certa altura, conta uma anedota sobre Bill Gates. Ele teria escolhido Seattle como segunda sede da Microsoft não porque seus pais morassem lá, mas porque chove o tempo todo, e os empregados tendem a trabalhar mais...
Falando em rei empresarial, Gates nunca falou tanto de si. Na edição da "Time" que sai esta semana, deu entrevista de 11 páginas, daquelas de pop star. Fala da filha, da alma humana, de amor, de Clinton... Mas mantém o tom habitual de pragmatismo monocórdico -demonstrando que no seu caso o culto à personalidade é pura reverência diante da força bruta do dinheiro.
Veja sua opinião sobre, por exemplo, Deus. "Em termos de alocação de recursos de tempo, a religião não é muito eficiente. Há muitas coisas melhores que eu poderia fazer numa manhã de domingo."

E-mail: netvox@uol.com.br

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