São Paulo, quarta-feira, 8 de janeiro de 1997
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DiCaprio pensa no Oscar com novo filme

JEANNE WOLF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de dar novo sabor a um lendário amante shakespeariano no surpreendente sucesso "Romeu e Julieta" (que estréia nesta sexta em São Paulo), Leonardo DiCaprio volta à tela grande em "Marvin's Room" (com Meryl Streep e Diane Keaton), no papel de um adolescente rebelde com uma queda pela piromania.
Apesar de seus feitos na tela -entre eles uma indicação ao Oscar pelo garoto deficiente mental de "Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador"-, DiCaprio tem apenas 22 anos, e seu jeito de menino o faz parecer muito mais novo.
Seu pai, produtor de revistas em quadrinhos underground, levava para casa artistas de vanguarda como o escritor Charles Bukowski e o decano dos artistas de quadrinhos eróticos Robert Crumb.
A mãe teve a idéia do nome do filho quando o garoto, que ainda não tinha nascido, chutou-lhe a barriga quando ela admirava uma pintura de Leonardo Da Vinci.
Em "Marvin's Room", DiCaprio é o complicado primogênito de uma mãe solteira vivida por Meryl Streep. Quando descobre que a irmã da qual se distanciou (Diane Keaton) está com leucemia, ela parte para o sul com as crianças, mergulhando em uma comédia de humor negro que explora os relacionamentos familiares e o significado do amor.
*
Folha - É irônico interpretar um adolescente rebelde em conflito com a mãe, porque não foi assim que você cresceu, certo?
Leonardo DiCaprio - Absolutamente certo. Realmente não tive muito com que me identificar. No que diz respeito à minha família, os rebeldes eram meus pais. Tudo o que eu queria fazer na vida, eles deixavam.
Folha - Você acha que trabalhar com atrizes como Meryl Streep e Diane Keaton empurrou o seu próprio desempenho a um patamar mais alto em "Marvin's Room"?
DiCaprio - Sim. Quando você atua ao lado de alguém do calibre de Meryl Streep, tem de estar ligado. Ela às vezes muda tudo de repente. Aprendi muito com ela.
Folha - Todo mundo diz que você faz muitas brincadeiras no set, e que adoram você por isso. Mas não é difícil ter de parar e fazer uma cena emocional?
DiCaprio - Nunca fui mesmo o tipo de pessoa que incorpora o personagem. Simplesmente não consigo. Tenho 22 anos. É importante não levar a vida tão a sério. Se tivesse mergulhado fundo em cada um dos meus personagens, estaria num hospício. Tenho me saído bem com isso tudo porque percebi que não é preciso mergulhar totalmente em um personagem para ter um bom desempenho.
Folha - Você ficou surpreso com o sucesso de "Romeu e Julieta"?
DiCaprio - Certamente fiquei. Acho que as pessoas da minha idade foram o maior público e se sensibilizaram com o filme.
Sempre dizem: "Por que os jovens não se sensibilizam com Shakespeare?". Todos os outros filmes de Shakespeare são meio difíceis de entender para as pessoas de nossa idade. Agora elas têm algo com que se identificar.
Folha - Agora você está filmando "The Titanic". Como é?
DiCaprio - Ah, essa coisa de Titanic é uma jogada totalmente diferente. Nunca havia feito um filme assim. Você chega ao set e vê milhares de pessoas envolvidas nele -é uma coisa gigantesca.
Folha - Ter críticas cada vez melhores aumenta a pressão sobre você?
DiCaprio - Realmente não dá para pensar nisso quando se está filmando, porque a coisa vai sair cem vezes pior. Penso em coisas assim o tempo todo. Minha posição é difícil.
Não é porque você teve um bom desempenho uma vez que vai ser sempre bom. É por isso que alguns dos maiores atores da história ficaram meio malucos. É fácil cair nessa armadilha. Talvez você me encontre na lata dos doidos daqui a alguns anos. Agora eu não me preocupo com o que dizem a meu respeito, porque chega um ponto em que, quando você é sucesso, é sucesso, e quando não é, não é.
Folha - Você pensa na possibilidade de ser indicado ao Oscar por "Romeu e Julieta" ou "Marvin's Room"?
DiCaprio - É, eu penso nisso. Não seria humano se não pensasse. Mas não quero esperar nada, porque, e se não acontecer? Tenho sentimentos curiosos sobre o Oscar, porque fui indicado por "Gilbert Grape". Realmente não queria ganhar, porque achava que, quando se ganha, as pessoas esperam que você seja perfeito em tudo o que faz. Se você não é perfeito, é quase certamente assim: "Muito bem, tira o cara daqui, ele teve sorte uma vez e agora acabou".

Tradução Lucia Boldrini

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