São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
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Presidente da Câmara ataca inquérito

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O caso Vaccarezza deflagrou uma crise entre a Câmara Municipal de São Paulo e o Ministério Público Estadual, que anteontem pediu a abertura de um inquérito policial para apurar a existência ou não de funcionários "fantasmas" na Câmara.
Durante nove meses do ano passado, Cândido Vaccarezza, secretário-geral do PT, foi "fantasma" do gabinete da presidência da Câmara, que na época era comandada pelo vereador malufista Brasil Vita (PPB).
O presidente da Câmara, Nello Rodolpho (PPB), foi ontem ao gabinete do procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Luiz Antonio Marrey, para protestar contra a abertura do inquérito policial.
"Está havendo ingerência do Ministério Público no Legislativo e eu não aceito isso", disse o vereador malufista. Rodolpho aventou a possibilidade de recorrer à Justiça para barrar a investigação policial sobre os "fantasmas".
"A abertura do inquérito já caracteriza um julgamento antecipa do", acha o presidente da Câmara paulistana. Para ele, o caminho correto é a apuração do caso pelos vereadores e, se comprovada irregularidade, aí sim caberá ao Ministério Público entrar em ação.
Rodolpho afirmou ainda que Marrey deveria ter pedido informações à Câmara antes de solicitar investigações. "Eu não vou admitir que nenhum promotor entre em gabinete da Câmara", declarou.
O vereador malufista, que até a manifestação do Ministério Público não tomara medida para investigar a existência ou não de irregularidades, afirmou que segunda-feira reunirá os líderes de bancada e a Mesa Diretora para, provavelmente, determinar a abertura de uma "investigação preliminar" sobre o caso.
Ministério Público
Marrey discordou da posição de Rodolpho. Disse que não voltará atrás na decisão de apurar o caso dos "fantasmas". Além de Vacarrezza, outros comissionados na Câmara também não comparecem ao local de trabalho, mas recebem seus salários como se desempenhassem suas funções.
"A apuração de eventual crime e improbidade é obrigação do Ministério Público", afirmou Marrey. O procurador-geral de Justiça acrescentou não há ingerência no Poder Legislativo. "As esferas são independentes, mas as notícias detalhadas e fundamentadas sobre o caso não poderiam ser ignoradas", disse.
"Não tinha conhecimento de qualquer investigação da Câmara Municipal, mas mesmo que houvesse essa investigação ela não impediria nosso trabalho", declarou.
Desde que elegeu seus primeiros parlamentares, o PT estabeleceu como norma a cessão para trabalho partidário de uma parte da cota dos funcionários de seus detentores de mandato.
Luiz Inácio Lula da Silva e Luiza Erundina, entre outros, estão entre os petistas que se utilizam de funcionários pagos pelo Legislativo. A novidade, no caso de Vaccarezza, é que ele se abrigou em gabinete malufista.

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