São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 1997
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Ruralistas negociam dívida do setor em troca de votos

FERNANDO GODINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A bancada ruralista e deputados ligados a cooperativas aproveitarão a votação da emenda da reeleição para equacionar o endividamento do setor.
O governo federal ainda não estabeleceu critérios para a renegociação das dívidas de proprietários rurais superiores a R$ 200 mil. E as cooperativas de todo o país têm dívidas de cerca de R$ 980 milhões.
Anteontem, representantes dessas duas bancadas (que somam cerca de 250 parlamentares) se reuniram com o ministro Arlindo Porto (Agricultura) para cobrar uma solução para esses débitos.
Ficou acertado que Porto e um representante do Ministério da Fazenda receberão o setor na semana que vem: ou na tarde de terça-feira ou na manhã de quarta. Em ambos os casos, próximo à véspera da votação da reeleição no plenário da Câmara.
"A bancada ruralista não está trocando a renegociação das dívidas pela reeleição. Mesmo porque ela está dividida sobre esse assunto", disse o deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), um dos líderes dos ruralistas. Ele defende a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
Romaria
Durante todo o dia de ontem, o Palácio do Planalto continuou sendo alvo da romaria de deputados interessados em encaminhar reivindicações que favorecem suas bases eleitorais.
Segundo o Planalto, FHC recebeu ontem 12 parlamentares e o governador de Tocantins, Siqueira Campos (PPB).
O deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), que assumiu uma cadeira no início deste mês, conseguiu uma audiência de 15 minutos com FHC para pedir mais recursos para a reforma agrária no Pará.
Mas tratou de outro assunto e conseguiu a garantia de que a Companhia Vale do Rio Doce irá instalar no Pará uma usina metalúrgica para processar o cobre retirado em Marabá (PA), gerando 10 mil empregos diretos e indiretos.
Segundo o deputado, havia a possibilidade de a usina ser instalada no Maranhão. Bentes disse ser favorável à reeleição.
O deputado Alexandre Santos (PSDB-RJ) se reuniu com a assessoria do ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) para pedir incentivos fiscais para o norte do Rio -como abatimento no Imposto de Renda das empresas.
Segundo ele, que é favorável à reeleição, "o momento político ajuda na condução dessas reivindicações".
FHC também recebeu o deputado José da Paixão (PPB-RJ), que pediu apoio para acabar com a vinculação do Corpo de Bombeiros às secretarias da segurança.
Paixão quer que os bombeiros sejam ligados aos gabinetes dos governadores, o que, segundo ele, exigira alteração na Constituição.
"FHC foi simpático ao assunto", disse Paixão, que se declara indefinido sobre a reeleição.
O ministro Santos também foi procurado pelo deputado Wilson Cignachi (PMDB-RS), que pediu a liberação de R$ 30 milhões em financiamentos para a exportação de vinhos e sucos no Estado.
O encontro se deu na Câmara dos Deputados, para onde Santos foi no meio da tarde de ontem.
A reeleição também foi comentada na audiência dos sindicalistas da Força Sindical com FHC. O presidente da central, Luiz Antônio de Medeiros, disse ao presidente que "o povo apóia a reeleição".
Segundo Medeiros, o presidente respondeu: "E o Congresso também. E ela (a emenda da reeleição) vai ser aprovada."
Outro lado
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse ontem que é preciso "apresentar fatos" de que está sendo feita barganha com o Congresso para justificar o argumento de que o governo transformou o Planalto num balcão de negócios.
"De outras vezes, quando foram votadas as emendas constitucionais, também se falou em balcão de negócios, mas não houve nenhum fato que se provasse nesse sentido", disse Amaral. "Pode parecer difícil, mas o Brasil está mudando", afirmou o porta-voz.

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