São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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JK governou metade do Brasil de FHC

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso têm protagonizado um debate entre colunistas da Folha nas últimas semanas sobre quem teria sido o melhor presidente do Brasil dos últimos 50 anos.
Uma análise das estatísticas de hoje e de 1960 mostra que, afora eventuais semelhanças entre os estilos dos dois governantes, o Brasil administrado por JK era tão diverso do de FHC que torna quase impossível colocá-los num mesmo patamar.
"As coisas são incomparáveis", afirma Francisco de Oliveira, 63, professor de Sociologia da Universidade de São Paulo. Ele fala com a experiência de quem trabalhou com JK no governo e foi colega de FHC no Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
As transformações sociais, políticas, econômicas e demográficas foram tão grandes nos 35 anos entre o fim de um governo e o início do outro que as estatísticas parecem se referir a dois países diferentes.
Desde o governo JK, de 1956 a 1960, até os anos FHC a população brasileira mais do que dobrou: de pouco mais de 70 milhões de habitantes, passou a cerca de 157 milhões. Um crescimento que equivale à população da Alemanha.
Migração
Esse movimento, entretanto, não ficou restrito às salas de parto. Cerca de 30 milhões de pessoas migraram do campo para a cidade, em busca de empregos na indústria, que se consolidava no país.
Os empregados na agricultura, que em 1960 eram a maior parte da mão-de-obra brasileira (54%), minguaram para 15% da força de trabalho, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar de 1995.
O desemprego, que na época de JK nem sequer era medido, cresceu junto com o inchaço das cidades até chegar aos cerca de 14,5% atuais.
A nova estrutura econômica e social concentrou ainda mais a renda. Embora tenha mudado de mãos, dos agricultores para os industriais, o dinheiro acabou no bolso de ainda menos brasileiros.
Em 1960, os 10% mais ricos detinham 39,6% da renda nacional, e os 10% mais pobres, 1,9%. Em 1995, a fatia nas mãos dos muito ricos havia crescido para 48,2%, e a dos miseráveis, caído para 1,1%.
"Aquela era uma época (os anos JK) de euforia, de afirmação nacional. Hoje não se vê o mesmo envolvimento de praticamente todas as classes sociais num projeto nacional de desenvolvimento", avalia Francisco de Oliveira.
Eleitores
Na política, a conquista do poder então seguia caminhos diferentes dos atuais. Apenas 22,2% da população estava apta a escolher seus representantes. No pleito municipal do ano passado, 65% dos brasileiros tinham direito ao voto.
O eleitorado foi multiplicado de 15 milhões para 100 milhões principalmente por causa da incorporação dos analfabetos ao rol de pessoas com direito a voto.
Em 1960, 40% das pessoas com mais de 15 anos não sabiam ler nem escrever. Hoje, são 17%.
Essa foi uma das muitas transformações culturais que se processaram no Brasil nos últimos 35 anos. A população ficou mais mesclada e menos católica.
Houve uma diminuição sensível nos grupos de brancos e negros e um aumento do grupo daqueles que o IBGE convencionou chamar de pardos. De 29,5%, passaram a 40% da população.
Os católicos, que eram 93% dos brasileiros em 1960, ainda são maioria absoluta (83%), mas perderam terreno para os adeptos das religiões neo-cristãs.

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