São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Real leva consultorias à reengenharia

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A estabilidade da economia brasileira está obrigando as empresas de consultoria a passar por um processo que elas mesmas costumam recomendar a seus clientes: uma reengenharia no portfólio de serviços e produtos que oferecem.
Saem de cena os genéricos cenários macroeconômicos, com suas especulações sobre o ritmo da inflação, por exemplo, e ganham prestígio produtos específicos que possam ajudar resolver problemas concretos de uma empresa.
Nas palavras de Gil Pace, da GPC Consultores Associados, que há dois anos tinha a previsão da inflação como principal produto, "os clientes cansaram de ouvir as mesmices macroeconômicas".
"Com o atual cenário, em que a economia está absolutamente previsível, o país não precisa de mais do que duas consultorias macroeconômicas", exagera Pace.
Nesse descompasso entre o que os consultores estavam vendendo e o que os clientes estavam interessados em saber, muitas empresas de consultoria se deram mau. "Muitas perderam clientes, reduziram de tamanho", diz Pace.
Análise de risco
No caso da sua própria consultoria, continua, a saída veio depois de uma avaliação da situação das empresas, seus clientes potenciais, agora em clima de estabilidade.
"O consumidor passa a ser o rei e o crédito (para financiar as vendas) é fundamental para a alavancar o faturamento", diz.
Ele decidiu então criar um instrumento útil para as empresas, nesses tempos de inadimplência em alta: um pacote estatístico, desenvolvido caso a caso, para elas poderem calcular o risco embutido nos crediários que oferecem.
Outra que decidiu se adaptar foi a MB Associados, também uma consultoria tradicionalmente voltada para a macroeconomia.
Celso Toledo, consultor da MB, diz que uma das consequências da queda drástica da inflação foi o alargamento do horizonte previsível aliado a uma melhor qualidade das informações projetadas.
"Recentemente, por exemplo, terminamos um cenário sobre como deve estar a economia no ano 2000, o que antes era impensável."
Mas ele também concorda que a demanda pelos cenários tende a se reduzir, enquanto cresce a procura por assuntos setoriais.
"A demanda do cliente, que era macro, agora passa a ser micro. O importante fica sendo saber qual impacto de uma medida sobre um determinado setor."
Toledo aponta o que considera uma falha grave no aparato de análise à disposição no mercado: o país não tem um indicador que mostre qual o tamanho exato dos estoques das empresas.
"Esse indicador não existe e, no entanto, é fundamental", afirma.
Internacionalização
Para João Paulo Gonçalves, sócio e responsável pela área de consultoria da Arthur Andersen no país, as empresas brasileiras estão preocupadas em aumentar suas receitas, o que, se em um primeiro momento pode parecer redundância, na verdade tem sua explicação.
"Nos últimos anos, elas precisaram se adaptar à estabilidade, à abertura da economia, reduzindo custos para sobreviver. Agora começam a pensar em como aumentar seus faturamentos", diz.
Gonçalves considera que a estabilidade serviu para aumentar as possibilidades das consultorias. "Com o fim da inflação, os números começam a ficar comparáveis e as verdades começam a aparecer."

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