São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Bolsa teme volume menor com CPMF para estrangeiro

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teme uma queda nos volumes movimentados no mercado brasileiro de ações por conta da incidência da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) nos investimentos estrangeiros em papéis de companhias brasileiras.
Na sexta-feira, o governo regulamentou a cobrança da CPMF na entrada e na saída dos dólares das Bolsas. A mordida de 0,4% -caso a medida seja mantida- poderá transferir parte dos negócios do mercado local para os Estados Unidos, onde ações brasileiras são negociadas por meio de recibos (ADRs), disse Alfredo Rizkallah, presidente da Bovespa.
"Precisamos ficar atentos. Hoje, um terço dos negócios com Telebrás são feitos em Nova York. Se a fatia aumentar, será culpa da CPMF", disse Rizkallah.
A reclamação contra o imposto pode até ser legítima -os estrangeiros, afinal, já são tributados em seus países de origem, o Brasil tem acordos para evitar a bitributação e deve estimular os mercados de capitais para crescer. Mas o argumento dos ADRs é questionado, em conversas reservadas, até mesmo por corretores e banqueiros.
A razão é simples: não haveria ADRs suficientes para acomodar todos os dólares que fugiriam da CPMF investindo diretamente em Nova York. O mais fácil seria uma fuga para outros papéis de países emergentes. Isso, se as iscas do mercado brasileiro em 97 (reeleição, privatizações) não superarem o estrago da CPMF.
Aos números. Há US$ 27 bilhões de estrangeiros investidos nas Bolsas do país, dos quais US$ 3,4 bilhões entraram em 96. Nos EUA, há ADRs de 43 empresas, que somam menos de 10% das 550 companhias listadas na Bovespa.
Por enquanto, os ADRs verde-amarelos representam apenas uma pequena parcela do capital das empresas. Em 30 de novembro, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) listou 36 ADRs, dos quais 26 correspondiam a menos de 10% do capital das emissoras.
As fatias vão de 0,01% do capital (Bahia Sul) a 48,17% (Brazil Realty, empresa de participações).
As mais relevantes são de Telebrás (25% do capital), Aracruz (19,18%) e Cemig (15,48%). No caso de Telebrás, a mais importante do mercado, os ADRs somam US$ 6,4 bilhões.
"Os ADRs da Telebrás não são pouca coisa. No mês passado, a Telebrás foi a segunda empresa estrangeira mais negociada em Nova York. A diferença de custo por causa da CPMF pode aumentar essa transferência de liquidez", protesta Rizkallah.

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