São Paulo, domingo, 12 de janeiro de 1997
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Paternidade sobe ringues

EDUARDO OHATA
COLUNISTA DA FOLHA

Um dos aspectos mais fascinantes no mundo do boxe são as famílias formadas por lutadores. Muitos campeões calçaram as luvas inspirados nos pais.
Um detalhe que fica logo claro, porém, é que talento não é hereditário. Nenhum filho de campeão mundial conseguiu repetir o pai.
Marvis Frazier, filho de "Smoking" Joe Frazier, um dos maiores rivais de Muhammad Ali, foi o último a tentar.
Como amador, Marvis possuía estilo próprio. Suas vitórias eram resultado da combinação de técnica e movimentação.
Tudo mudou quando Marvis se profissionalizou.
Papai Frazier transformou o garoto em seu clone. As esquivas, fintas e jogo de pernas desapareceram, substituídos por um constante ataque.
Joe esqueceu somente um detalhe: Marvis não possuía seu potente gancho, que uma vez levou Ali à lona.
O resultado desse "erro de cálculo" foram devastadores nocautes sofridos no primeiro assalto para Larry Holmes e Mike Tyson. Este último precisou de apenas 30 segundos para colocar "Little Smoke" no chão.
Anos depois, o próprio Joe reconheceu que sua presença, de alguma forma, influenciou negativamente a carreira do filho. "Se não tivesse um pai famoso, Marvis provavelmente teria se esforçado mais."
Mas nem todo relacionamento entre pai e filho está destinado ao fracasso no boxe.
A história de Ray Mancini é a maior prova.
Ray nunca se conformou com a história de seu pai, Lenny. Lenny estava prestes a disputar um título mundial, quando foi convocado para servir os Estados Unidos na Segunda Guerra.
Voltou com graves ferimentos nos olhos. Nunca mais lutou.
Ray decidiu tornar realidade o sonho do pai. Ainda garoto, começou a treinar, adotando o apelido de Lenny "Boom Boom".
Mais tarde, enfrentou forte oposição da família ao trocar a faculdade pelo esporte. Sacrificou tudo para se concentrar inteiramente no boxe. "Valeu a pena."
Em janeiro de 82, vestindo o calção de Lenny -mais uma forma de homenagear seu velho-, Ray conquistou o título dos leves da Associação Mundial.
Nocauteou Arturo Frias no primeiro assalto. Emocionado, Lenny mal conseguia aplaudir.
Para Ray Mancini, o dever de filho estava cumprido.

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