São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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"Globalização financeira fez parte do processo"

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o professor Waldir Quadros, a globalização financeira e a reestruturação das empresas foram grandes responsáveis no processo de transformação da classe média. A seguir, trechos da entrevista do professor da Unicamp:
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Folha - Qual sua definição de classe média hoje?
Waldir Quadros - Existem várias maneiras de se definir classe média. A forma mais comum é pelo poder aquisitivo, ou seja, é uma classe de renda média. Mas meu trabalho não parte desse princípio e sim da inserção da pessoa na estrutura ocupacional. Dividimos a classe em média alta (executivos, pequenos empresários), média baixa (professores primários, balconistas) e média média (bancários, professores secundários).
Folha - O Plano Real acentuou o empobrecimento da classe média?
Quadros - Sim, mas ainda estamos avaliando com mais detalhes a fase pós-Real. Isso resultará em uma nova pesquisa em 97. As evidências apontam que essa tendência observada no período de 90 a 94 vem se mantendo.
Folha - O sr. fala muito em encolhimento de oportunidades. Como se deu essa diminuição?
Quadros - O que pesou foi a globalização financeira. Se as empresas estivessem se reestruturando, mas houvesse aumento do número de companhias, tudo bem. Mas isso não está acontecendo.
Folha - Seria possível medir essa retração do mercado de trabalho?
Quadros - Em 1989 havia 2,5 milhões de trabalhadores de classe média no Estado de São Paulo, representando 36% do total de trabalhadores do setor privado. Até 1994 houve um corte global nessas ocupações de 456 mil postos de trabalho, o que representa 19% do contingente de 1989.
Folha - Em que setores o enxugamento é maior?
Quadros - Nos níveis intermediários de gestão, como gerentes, técnicos administrativos e supervisores de fabricação. Também nas áreas em que a terceirização foi maior, onde esses cortes foram ainda mais significativos.
Folha - Quais seriam os caminhos para reverter essa situação?
Quadros - Só mudando a orientação da política social e econômica do país. O país também tem que se reposicionar em relação ao mercado internacional.
Folha - De que forma?
Quadros - É preciso deixar de ter uma política subordinada, principalmente em relação aos interesses financeiros internacionais. Isso leva a uma retração das atividades produtivas e a uma subordinação das áreas sociais. Temos que mudar nossa maneira de nos relacionar com o mercado externo. Mas, até o momento, não houve sustentação política para reverter esse quadro.

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