São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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Ska com maracatu!

CLEMENTE
ESPECIAL PARA A FOLHA

O verão finalmente chegou, e com ele aquele clima "contagiante" de alegria e felicidade, que vai tomando conta de nossos corações. Enquanto isso, Baco vai pisoteando suas uvas, preparando o vinho para a festa da luxúria e do prazer, o Carnaval, que encerra esse maravilhoso ciclo e, finalmente, o país acorda, na maior ressaca, para trabalhar: começa o ano novo.
E todo ano, como é de praxe, elegemos o som, o ritmo, enfim, o hit que vai embalar o verão.
Dessa vez, a vítima é o ska, ritmo jamaicano, pai do reggae, que emigrou para a Inglaterra no final da década de 60 e foi prontamente adotado pelos skinheads (!) locais. Skin não é sinônimo de neonazis racistas, naquela época praticamente não existiam skins racistas e hoje muitos são de esquerda e lutam contra o preconceito racial. Foram eles que divulgaram o ritmo por toda a Europa, o que foi chamado de "1ª onda".
No final da década de 70, o ska foi adotado também pelos punks e outras tribos, e foi popularizado no mundo todo através do movimento Two Tone, dois tons, preto e branco, negros e brancos tocando juntos nas mesmas bandas, sob um só ideal. Skins, punks e "skazeiros", os chamados Rude Boys, todos juntos (quem não se lembra do The Specials, Madness, The Selecter e Bad Manners?). Essa foi a "2ª onda".
Hoje estamos vivendo a 3nd wave, ou "3ª onda" (parecem surfistas, esses caras...), um novo rompante de popularidade na Europa e América Latina, impulsionado pelos Estados Unidos, celeiro das principais bandas do momento, como Toasters, Mephiskapheles e Mighty Mighty Bosstones, num movimento que se alastra rapidamente.
Você já pode ouvir bandas australianas e japonesas, como The Porkers e Tokyo Ska Paradise Orchestra. Esse fenômeno já vem se revelando nas paradas de sucesso dos EUA. Qualquer um que tente fazer ska, já está sendo contratado por uma grande gravadora. Hoje há bandas para todos os gostos, desde as mais tradicionais até as que misturam o ritmo com hardcore, pop, punk ou jazz.
No Brasil, não podia ser diferente; a grande mídia já está afiando garras e dentes para trucidar o bom e velho ska, embalando-o em saquinhos descartáveis para consumo imediato e prazo de validade já estabelecido. Só que, apesar daqueles que certamente não se incomodarão em brilhar apenas durante um verão, podem surgir nomes que venham para ficar.
Com esse objetivo, estou produzindo para a gravadora Paradoxx uma coletânea nacional de ska, com as bandas Skamoondongos e Manuels, de São Paulo, Skuba e Boi Mamão, de Curitiba, e Mr. Rude, de Belo Horizonte.
Só espero que esse verão passe logo, que o ska se consolide no cenário musical brasileiro, já que é um ritmo fácil de se misturar com outros estilos, do rock ao maracatu (o que pode gerar muito "samba" por aqui), e que muitas bandas surjam.
Para elas, já tenho várias sugestões de nomes: banda Ska-Punk, Skarro, Ska-nordestino, Skamelô, Ska-metal, Skalibur, Ska-Skin, Skarecas Ska-Pop, Skabides, Ska-Ska, Skapamentos...

O colunista Álvaro Pereira Júnior ganhou merecidas férias e volta no mês que vem

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