São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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Do lado depressivo do rock

MARIA CRISTINA FRIAS
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LONDRES

Um som "do outro lado da vida". É assim que o tecladista Josh Silver define o trabalho da banda norte-americana Type O Negative. O resultado é mesmo tão heavy, tão deprê, que já inspirou alguns fãs mais fanáticos a se vestirem como vampiros -e até a quererem se comportar como eles. Muitas das letras das músicas do grupo falam de sangue e morte.
O quarto álbum da banda, "October Rust" (ferrugem de outubro), lançado em setembro último, continua no mesmo embalo. Um exemplo: a letra de uma das canções, "Wolf Moon", diz que "no vigésimo-oitavo dia, ela vai estar sangrando de novo e como lobos... viciados em sangue... vamos aliviar a dor".
Apesar de versos desse gênero, em entrevista exclusiva à Folha, Silver negou que a banda, que tem um tipo sanguíneo como nome, estimule comportamentos exóticos. E disse que não acha o próprio sangue muito recomendável para consumo. "Pode ser HIV positivo...", acrescentou.
O Type O Negative encerrou a turnê de 1996 com um show em Londres, no final de dezembro. Os ingressos se esgotaram mais de uma semana antes da apresentação, como aconteceu em outras cidades da Europa onde tocaram. Durante o show, a banda mostrou um som pesado, gótico, um pouco influenciado pelo pop dos anos 60.
A seguir, trechos da entrevista com Silver, que se define como um "eremita paranóico-esquizofrênico".
*
Folha - É verdade que alguns fãs da banda, ao invés de quererem camisetas ou algo que o grupo usa no palco, gostariam de ter um pouco do sangue de vocês?
Silver - Olha, o meu sangue bem que pode ser HIV positivo... Eu, se fosse eles, não iria querer.
Folha - Mas vocês estimulam de alguma forma esse tipo de coisa?
Silver - Não, é algo dos fãs mesmo. Não falamos sobre isso especificamente nas letras, nem no palco. Os nossos temas são sobre tudo, especialmente o que há de depressivo no ser humano.
Folha - Vocês têm planos de tocar no Brasil?
Silver - No futuro. É um país que gostaríamos de conhecer. Espero que possamos ir. Vamos tentar.
Folha - Como você definiria o som do grupo?
Silver - Pergunte aos nossos fãs. Nos dão vários rótulos. Acho todos inaceitáveis, menos gótico. Acho que é um som do outro lado da vida, algo que não é considerado o lado melhor.
Folha - De onde vem a inspiração? Vocês pensam primeiro em temas mais polêmicos como "A Namorada da Minha Namorada"?
Silver - Depende. A inspiração vem provavelmente de tudo o que a gente não gosta na gente mesmo. Todo mundo odeia algo em si mesmo. Alguns são mais depressivos, tentam se livrar da frustração. Para nós, não tem outro jeito senão através da música.
Folha - Qual a idade dos membros da banda?
Silver - (Hesita um pouco) Ah, somos velhos. Tenho 3.900 anos, Peter Steele (vocalista) tem 3.500, Johnny Kelly (baterista), 2.800 e Kenny Hickey (guitarrista), 3.000.

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