São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
'Anjo Azul' traz liberdade incontida
MARCELO REZENDE
Graças ao seu personagem Lola-Lola, uma cantora de cabaré que destrói a vida de um respeitado professor em uma cidade alemã, essa pequena referência bíblica servia um pouco para explicá-la. Ao menos na ação de seus personagens. Apesar de o primeiro filme que contou com Dietrich ter sido realizado em 1923 ("Der Kleine Napoleon"), ela e sua carreira sempre foram vistos como uma invenção de Sternberg. Seu Pigmalião. Cineasta nascido em meio à classe média austríaca, Sternberg trabalhou como montador em uma companhia do Estado de Nova York, realizando seus primeiros trabalhos na América para, depois, encontrar Marlene na Alemanha. Ela era então uma iniciante, tendo seu rosto conhecido pelas várias figurações, inclusive nos filmes de Greta Garbo. E entre o símbolo sexual preferido dos estúdios da UFA e uma recém-debutante, sua escolha foi a atriz fetiche que, mais tarde, o acompanharia aos estúdios americanos para produzir o escândalo em "Marroco" (1930), "X 27" (1931) e "Shangai Express" (1932). Mas é ainda "O Anjo" o grande tratado dos pequenos vícios, do ar decadente de um tempo em que uma cidade respirava a liberdade incontida. O filme cumpre ainda hoje o papel quase documental de mostrar o que era um país instantes antes de que toda sua história mudasse. O nazismo subiria ao poder poucos anos depois e os cabarés se silenciariam em Berlim. Na relação entre a escandalosa cantora e o professor que tenta salvar a carreira e a moral de seus valorosos alunos, há a vertigem dessa situação. Em "O Anjo Azul" esse estranho casal, uma sedutora profissional em meio à devassidão, e um homem que se apaixona pelo objeto que deseja destruir, parecem estar dependentes -e a serviço- de algum tipo de força, algo maior e superior a eles. Talvez, submetidos à grande pressão do lugar onde estavam, a Alemanha. Talvez, mais simplesmente, conduzidos pela idéia de que deveriam, de todas as maneiras, concretizar seus desejos. Algo que, afinal, não deixa de ser uma metáfora para o que o mundo enfrentaria -dolorosamente- anos depois. Filme: Anjo Azul Produção: Alemanha, 1930 Direção: Josef von Sternberg Distribuição: VTI Home Vídeo Texto Anterior: Bill Clinton premia Lionel Hampton; Guitarrista do Spirit desaparece no mar; Brad Pitt pode trocar Argentina pelo Chile Próximo Texto: Filme mostra refúgio do pré-guerra Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |