São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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'Anjo Azul' traz liberdade incontida

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Marlene Dietrich (1901-1992), quando nasceu em Berlim, recebeu de seus pais o nome de Maria Magdalene. E para todos aqueles que a viram em ação em "O Anjo Azul", de Josef von Sternberg, isso sempre pareceu uma ironia involuntária.
Graças ao seu personagem Lola-Lola, uma cantora de cabaré que destrói a vida de um respeitado professor em uma cidade alemã, essa pequena referência bíblica servia um pouco para explicá-la.
Ao menos na ação de seus personagens.
Apesar de o primeiro filme que contou com Dietrich ter sido realizado em 1923 ("Der Kleine Napoleon"), ela e sua carreira sempre foram vistos como uma invenção de Sternberg. Seu Pigmalião.
Cineasta nascido em meio à classe média austríaca, Sternberg trabalhou como montador em uma companhia do Estado de Nova York, realizando seus primeiros trabalhos na América para, depois, encontrar Marlene na Alemanha.
Ela era então uma iniciante, tendo seu rosto conhecido pelas várias figurações, inclusive nos filmes de Greta Garbo.
E entre o símbolo sexual preferido dos estúdios da UFA e uma recém-debutante, sua escolha foi a atriz fetiche que, mais tarde, o acompanharia aos estúdios americanos para produzir o escândalo em "Marroco" (1930), "X 27" (1931) e "Shangai Express" (1932).
Mas é ainda "O Anjo" o grande tratado dos pequenos vícios, do ar decadente de um tempo em que uma cidade respirava a liberdade incontida.
O filme cumpre ainda hoje o papel quase documental de mostrar o que era um país instantes antes de que toda sua história mudasse.
O nazismo subiria ao poder poucos anos depois e os cabarés se silenciariam em Berlim.
Na relação entre a escandalosa cantora e o professor que tenta salvar a carreira e a moral de seus valorosos alunos, há a vertigem dessa situação.
Em "O Anjo Azul" esse estranho casal, uma sedutora profissional em meio à devassidão, e um homem que se apaixona pelo objeto que deseja destruir, parecem estar dependentes -e a serviço- de algum tipo de força, algo maior e superior a eles.
Talvez, submetidos à grande pressão do lugar onde estavam, a Alemanha.
Talvez, mais simplesmente, conduzidos pela idéia de que deveriam, de todas as maneiras, concretizar seus desejos.
Algo que, afinal, não deixa de ser uma metáfora para o que o mundo enfrentaria -dolorosamente- anos depois.

Filme: Anjo Azul
Produção: Alemanha, 1930
Direção: Josef von Sternberg
Distribuição: VTI Home Vídeo

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