São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 1997
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MAM faz retrospectiva da obra de Carlos Zílio

KÁTIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

O carioca Carlos Zílio, 52, inaugura, no MAM no dia 16, a retrospectiva "Arte e Política: 1966-1976".
O artista, que estudou e foi amigo de Iberê Camargo, e assumiu uma linguagem estética mais voltada a questões construtivas, foi se tornando engajado, sobretudo a partir de 64.
Ao se ligar à luta armada, foi baleado, preso durante dois anos e meio, entre 1970 e 72, no Rio de Janeiro. Depois, se exilou em Paris, onde fez mestrado e doutorado em história da arte.
Em entrevista à Folha, Carlos Zílio fala de sua vida e de sua arte.
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Folha - Como você resolveu fazer essa mostra, demarcando o período entre 1966 e 76, quando fazia um trabalho ostensivamente político, sem incluir sua pintura atual?
Carlos Zílio - Houve uma época em que dividia meu trabalho entre história e pré-história, e comecei a encaixar essa fase na "pré-história". Hoje não vejo assim. Entendi que tudo faz parte de um processo contínuo. Por isso senti que esse era o momento de expor as obras dos anos 60/70. Pelo menos as que restaram -muitas foram estragadas pela repressão.
Folha - No Rio, junto com a retrospectiva do MAM, você teve uma mostra na galeria Joel Eldestein, com pinturas atuais. Como foi estruturado esse paralelismo?
Zílio - Minha geração era contra a pintura. Era programático ser contra a tradição. Nos meus trabalhos dos anos 60 você não vai encontrar pinturas, vai ver objetos. Hoje, em compensação, trabalho com pintura.
Folha - Como se caracterizam as obras que serão vistas no MAM?
Zílio - Basicamente, o vínculo arte-política é definidor do trabalho. Até 1968 eu acreditava na arte como meio de transformar a sociedade. Mas fui me engajando mais e mais na política e, quando me dei conta, em vez de criar arte com um viés político, estava produzindo panfletos para distribuir em portas de fábricas.
Percebi que tinha pulado a cerca da arte e estava com os dois pés do lado da política. A política era uma radicalização da arte, só que, em vez de estetizar a vida através da arte, fui direto à ação política.
Folha - Foi nesse momento que você resolveu se exilar na França?
Zílio - Em parte sim. Morei na França entre 1976 e 80, voluntariamente exilado. Sentia um controle grande por parte da repressão e, ao mesmo tempo, comecei uma reformulação política. A utopia socialista entrava em crise.
Folha - Como foi seu trabalho na França?
Zílio - Ele se estruturou a partir de uma busca de reflexão teórica, sobre a história da arte. Em torno de 79, duas questões me inquietavam: como fazer pintura, ligando um compromisso da tradição a um meio que ainda poderia render muito; o que significava ser um artista brasileiro, o que me fez levar em conta Tarsila do Amaral, Volpi, além dos construtivistas com quem eu convivi.
Trabalhei, no mestrado e doutorado que fiz lá, as raízes da história brasileira, sobretudo no modernismo, fase em que a identidade brasileira se colocava. Pude ver isso de forma crítica, com um distanciamento da minha geração.
Minha tese virou livro, chama-se "A Querela do Brasil". Foi editada pela Relume Dumará junto com a Funarte, em 1981. A segunda edição será lançada em março de 97.
Agora leciono na Escola de Belas Artes da UFRJ, onde organizei um núcleo de mestrado para artistas.

Exposição: Carlos Zílio: Arte e Política, 1966-76
Onde: MAM (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 011/549-9688)
Vernissage: quinta, às 19h
Quando: terça a sexta, das 12h às 18h; quinta, das 12h às 22h; sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h; até 23 de fevereiro
Quanto: R$ 2 (meia-entrada para estudantes); entrada franca às terças

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