São Paulo, quarta-feira, 15 de janeiro de 1997
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Senadores fazem ameaça

CLÓVIS ROSSI
DA REDAÇÃO

Os senadores do PMDB ameaçam abrir "o departamento da sacanagem", na expressão ouvida ontem pela Folha, se e quando a emenda da reeleição chegar ao Senado e se for eleito presidente da Casa o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Traduzindo: os senadores peemedebistas buscarão todos os caminhos para inviabilizar a reeleição, entre eles o de aceitar o princípio, mas aprová-lo apenas para os sucessores de FHC.
Os senadores peemedebistas não têm problema algum com a decisão da convenção do partido, que exigiu que os parlamentares do PMDB só discutissem e votassem a emenda da reeleição após a eleição dos presidentes das duas Casas do Congresso.
A eleição será no dia 15 de fevereiro, e a emenda, se aprovada na Câmara, só chegará ao Senado depois dessa data.
Por isso, os senadores, reunidos anteontem à noite no Hotel Bonaparte, em Brasília, incumbiram seu colega José Fogaça (RS) de discutir a questão com os deputados.
Fogaça disse aos deputados que a decisão da convenção tem efeito coercitivo. Ou seja, quem a desrespeitar poderá ser levado a julgamento pela comissão de ética do partido, por iniciativa de qualquer filiado, e, eventualmente, até perder o mandato.
E não faltará filiado disposto a iniciar uma ação do gênero.
Os deputados reagiram com profunda indignação. "É dever constitucional dos parlamentares participarem dos trabalhos do Congresso", diz, por exemplo, Aloysio Nunes Ferreira Filho (SP).
Os deputados alegam que fizeram um acordo com o governo que passa pelo apoio à eleição de Michel Temer (PMDB-SP) para presidir a Câmara e conclui com o respeito ao cronograma de votação da emenda decidido pelo Executivo e pelo presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA).
No Senado, ocorre o inverso: o PMDB, por meio de Iris Rezende (GO), disputa a presidência com o PFL, representado por Antonio Carlos Magalhães.
A nova cisão
Com isso, além de todas as cisões habituais no PMDB, aprofundou-se uma nova: entre senadores e deputados.
Pelas contas mais confiáveis ouvidas pela Folha, cerca de 70 dos quase 100 deputados do PMDB estariam dispostos a correr o risco de desacatar a convenção.
Os outros 30, aproximadamente, respondem aos senadores ou a lideranças externas ao Congresso, como o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia.
Esse cálculo significa que, "se a emenda for levada hoje ao plenário, não passa", calcula Aloysio Nunes Ferreira Filho, pró-governo e pró-reeleição.
É por isso que o senador José Sarney (AP) prega o reinício de todo o processo de negociação em torno da reeleição.
Mesmo que a negociação se faça com êxito para o governo na Câmara, ficará o problema do "departamento de sacanagem" no Senado, no qual o PMDB é mais forte do que na Câmara.
Benito Gama acha que o governo consegue aprovar a reeleição também no Senado, mesmo com a oposição do PMDB.
Mas avisa: "Não queremos ganhar sem eles".

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