São Paulo, quarta-feira, 15 de janeiro de 1997
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Museus privados se expandem na China

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China, em seu "salto ao capitalismo", diminui a presença estatal no mundo das artes. Um dos reflexos dessa tendência é a expansão dos museus privados, que eram 80 nos final da década passada e já são mais de 200 em 1997, mostrando de antiguidades a coleções de caixas de fósforo.
A abertura de museus privados evidencia o crescente interesse dos colecionadores em expor suas peças e não representa uma caça a lucros, já que a legislação chinesa prevê que tais instituições não tenham fins lucrativos, explica Liu Chaoying, chefe do departamento de museus do Escritório de Relíquias Culturais de Pequim, uma entidade vinculada à prefeitura.
A capital chinesa ganhou no mês passado o Museu de Arte Clássica Guanfu. Pertence ao poeta Lu Dongzhi, que começou a colecionar antiguidades em 1987.
O acervo passeia por descobertas arqueológicas. Traz, por exemplo, cerca de cem utensílios do período neolítico e 300 lacres de argila, usados para selar documentos feitos em bambu. Os lacres são da dinastia Qin (221-208 a.C.) e Han (206 a.C.-220 d.C.).
Mas a parte principal do Museu Guanfu oferece peças de porcelana, tapetes e mobília das dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911).
Os museus privados, no entanto, não trazem apenas antiguidades. Entre as quatro instituições que receberam em Pequim autorização para abrir, está o Museu de Arte Moderna He e Wu. Os artistas He Yang e Wu Qian (pronuncia-se tchian) vão mostrar 60 das suas melhores pinturas.
O casal trabalha junto à Academia de Pequim de Pintura Tradicional Chinesa. "Podemos não ser famosos, mas temos nossos próprios estilos, que contam com uma aparência diferente, clara", disse He Yang. "Com o museu, queremos abrir uma janela para intercâmbio artístico".
O Museu He e Wu vai o equivalente a US$ 0,25 pelo ingresso. Artistas e estudantes não vão pagar. "Precisamos apenas de dinheiro para cobrir os gastos básicos", conta He Yang.
Os museus privados variam na hora de encontrar espaço. Pode ser apenas uma sala, obtida junto a uma instituição governamental, ou uma pequena casa alugada ou comprada pelo colecionador.
Encontrar espaço adequado não é o único desafio. Os colecionadores também precisam conseguir a aprovação do Escritório de Relíquias Culturais de Pequim.
No começo de 1996, o escritório recebeu dez pedidos de autorização. Apenas quatro projetos foram aprovados, entre eles o Museu Guanfu e o He e Wu.
"Exigimos acervos de qualidade e colecionadores que demonstrem conhecimentos sobre suas peças", explica Liu Chaoying, do Escritório de Relíquias Culturais de Pequim.
As exigências governamentais levam à criação de "museus privados clandestinos", ou seja, aqueles que trabalham sem a autorização das autoridades municipais. Em geral, esses museus se destacam pela diversidade e exotismo das coleções.
O colecionador Li Zhiguang, por exemplo, expõe sua coleção de mais de 1,8 milhão de caixas de fósforo, segundo anunciou a agência de notícias chinesa "Xinhua".
Em Xangai, a maior cidade da China, Chen Raocai abriu um museu para sua coleção de mais de 10 mil borboletas.
O colecionador Zhao Jinzhi também organizou uma mostra com mais de 10 mil tipos diferentes de chaves.

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