São Paulo, quarta-feira, 15 de janeiro de 1997
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Geena Davis é assassina em novo filme

MARIE GUICHOUX
PHILIPPE LANÇON

PHILIPPE LANÇON; MARIE GUICHOUX
DO "LIBÉRATION"

Aos 18 anos de idade, Geena Davis saiu de Massachusetts, Estados Unidos, para viver na Suécia. Sentia-se deslocada em sua cidade natal, pequena e provinciana. "Eu era diferente das outras garotas. Bonita, mas mais alta e desajeitada. Eu me perguntava quando iria parar de crescer."
O intercâmbio universitário foi bom para Geena: "Na Suécia todo mundo era alto!". Ela começou a namorar "o garoto mais bonito da classe" e, finalmente, parou de crescer. Aos 39 anos de idade, reflete: "Eu deveria ter nascido na Suécia. O engraçado é que acabei me casando com um finlandês".
Enquanto Geena "Gudrun" Davis concede entrevistas no segundo andar do hotel Coste, um viking com rabo de cavalo e camisa xadrez patrulha o saguão do hotel.
Terceiro marido da bela atriz (depois de um anônimo e de Jeff Goldblum) e diretor de "Duro de Matar 2" (ao lado de Bruce Willis), Renny Harlin é ainda um pouco mais alto que Geena.
Certamente foi para lhe fazer lembrar dos fiordes nórdicos que a atriz, por natureza morena, mas que ficou loira para o cinema, oxigenou seus cabelos ao extremo.
Mas também o fez em função do mais recente filme dos dois: "The Long Kiss Goodnight". Sob a cabeleira quase branca, sua boca é uma bomba vermelho-beijo iluminada por uma covinha na bochecha esquerda, promessa de delícias que despenca, 1,80m depois, nos sapatos saídos de um supermercado norte-americano qualquer.
Geena, de Hollywood, e Davis, de Massachusetts. A saga teve início numa cidadezinha de interior. "Dizem que a gente deve aproveitar a infância, que é uma fase maravilhosa da vida. Mas, para mim, é bem mais fácil ser adulta, responsável por mim mesma. Quando eu era criança, me sentia pressionada por todos os lados."
Sua mãe, professora, e seu pai, engenheiro, não eram maus, não mais do que seu irmão, que ela afirma não ver mais. Mas sua vida se arrastava, sonolenta, entre sorvetes e televisão.
Geena Davis entrou no nosso imaginário a partir de "Thelma e Louise". O filme de Ridley Scott já narrava uma metamorfose: a de duas mulheres interioranas que sentem que a vida as colocou num beco sem saída, de onde saem para criar seu próprio destino.
O cinema percebeu que Geena tinha um potencial grande. Não é sangue que corre em suas veias, mas nitroglicerina. Desde aquele filme Geena passou a ter fama de "bomba". Ela se pergunta por quê: "Eu me considero uma pessoa muito sensata, moderada".
"The Long Kiss Goodnight" não vai ajudar a enfatizar esse lado: sob o exterior de uma professora que sofre de amnésia mas é feliz se esconde uma matadora dos serviços secretos americanos.
Vítima de um acidente de carro, ela vê seu passado ressurgir à sua frente. Mas, antes de recuperar a memória, a professora recupera seus reflexos na cozinha, sob o olhar espantado do marido.
Resultado: um tomate esfacelado a golpe de faca e uma cenoura cortada em rodelas em questão de segundos.
Quando se trata de matar homens, a personagem de Geena no filme também não consegue parar: ela os fura, quebra seus pescoços, os massacra como animais, tudo isso sem perder o fôlego, como seus alter egos do gênero, Sylvester Stallone e Bruce Willis.
"Faço mais do que eles", afirma Geena, orgulhosa, dizendo ter feito ela mesma 90% das cenas de ação exigidas por um papel "nunca antes representado por uma mulher".
Ela teve que treinar o uso de armas de fogo, e, embora se diga "horrorizada" com a quantidade de armas existentes nos lares americanos, parece maravilhada por ter descoberto o quanto é boa em matéria de tiro ao alvo: "Meu professor me disse que tenho condições até de participar de competições!"
Mais do que com a questão da violência, Geena se preocupa com a representação cinematográfica da mulher: "Existem dois tipos de filmes que eu não suporto: aqueles em que a mulher não tem nenhuma função senão ser a namorada do herói e aqueles em que ela é um monstro, como Glenn Close em 'Ligações Perigosas'. Gosto de filmes que as mulheres possam assistir sem se sentirem mal".

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