São Paulo, quarta-feira, 15 de janeiro de 1997
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FHC e a maçaneta da porta

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Fernando Henrique Cardoso virou sambista de uma nota só: reeleição. Incrível como o presidente entalou-se nesse assunto de uma maneira obsessiva.
Não consta, por exemplo, que FHC tenha convocado, com tanta solenidade, os caciques do PMDB para exigir que se definissem a respeito das reformas estruturais, antigamente a prioridade zero do governo.
Mas o fez, anteontem, para cobrar-lhes a reeleição.
Ao mesmo tempo, o presidente jogou na lata do lixo toneladas de artigos que escreveu, inclusive para o espaço ao lado deste, em que defendia a necessidade de fortalecer os partidos políticos.
Ao pedir que os peemedebistas desprezem decisão de uma convenção, instância suprema de qualquer partido, FHC está na prática sepultando qualquer chance de vida civilizada nos partidos. Que eles sejam débeis, paciência. Contribuir para avacalhá-los mais ainda, aí é intolerável.
Nada contra a reeleição, ao contrário. Mas tudo contra transformá-la em gênero de primeira necessidade, como o está fazendo o presidente. Seus aliados do PSDB e do PFL insinuam, inclusive na propaganda televisiva, que a continuidade de FHC é essencial para a sobrevivência do Plano Real.
Propaganda enganosa. O Real sobreviveu, com garbo, à transição de um presidente (Itamar Franco) para outro (FHC), mesmo com os sacolejos decorrentes da crise mexicana.
Cansei de ler textos sobre o fascínio do poder. Cansei de ver, na atividade jornalística, exemplos incontáveis de como ele é forte, quase irresistível. Consta até que um governador de São Paulo, perguntado sobre as razões pelas quais gostava tanto do cargo, respondeu: "Você já imaginou o que é passar quatro anos sem precisar nem sequer pôr a mão na maçaneta de uma porta?".
Deve ser mesmo cômodo. Mas ainda acho que há coisas mais sedutoras na vida.

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