São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 1997
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O futebol brasileiro na era da globalização - 4

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, o futebol paulista está recebendo investimentos recordes nesta modalidade esportiva.
O fato é auspicioso para o futebol e alimenta um certo otimismo para o futuro.
No entanto, para além do oba-oba, é preciso que mudanças estruturais sejam realizadas para que o "custo Brasil" do futebol permita que esses ingressos financeiros não sejam tão voláteis quanto os investimentos estrangeiros especulativos nas Bolsas.
É preciso garantir estabilidade, durabilidade e consistência para esses investimentos, não só para preservá-los (uma vez que, com a atual estrutura dos clubes, eles são investimentos de alto risco), como também para ampliá-los.
Os patrocínios para Palmeiras, Corinthians e Santos não refletem a realidade da totalidade do futebol paulista, muito menos do brasileiro.
Se a performance da temporada de 1996, por exemplo, fosse o único critério para decidir esses investimentos, provavelmente os grandes times paulistas seriam péssimo negócio.
Nenhum deles ganhou os títulos nacionais mais importantes e nenhum deles disputará, em 97, o principal torneio da América do Sul, a Taça Libertadores da América. Portanto, nenhum deles disputará a Copa Toyota, que substitui o injustificavelmente inexistente título mundial de clubes.
Na época da globalização, os torneios internacionais de peso ganham cada vez mais expressão. Na Europa do mercado comum, a tendência tem sido dar importância crescente às competições continentais.
Para os grandes investidores, para aqueles que têm estratégias globais para os produtos, são essas competições que interessam cada vez mais.
Para os times brasileiros atraírem os grandes investidores, eles têm que ganhar escala nacional e até internacional.
Sob esse aspecto, o torcedor está inclinado a ampliar as fronteiras de suas conquistas. Com as transmissões de jogos remotos propiciadas pelos satélites, e com maiores facilidades de locomoção nos dias presentes, o mundo do futebol ficou mais integrado.
O torcedor quer cada vez mais ver o time vencendo torneios nacionais e internacionais. Foi-se o tempo em que era considerado mais importante vencer um título regional do que vencer um nacional ou internacional.
O menino que viu o São Paulo, o Flamengo ou o Grêmio ganhar a Copa Toyota sabe bem o que isso significa -mesmo distante de Tóquio.
Para um grande time, hoje, é mais estratégico dar prioridade para a Copa do Brasil, por exemplo, do que para um campeonato estadual, mesmo o prestigioso Paulista -pois este esgota-se nele mesmo e a Copa do Brasil e o Brasileiro levam às disputas internacionais.
Os times brasileiros pagam anualmente um ágio: disputam torneios regionais, o que não ocorre nos outros países.
Tudo bem que, em nome da tradição, eles sejam preservados. Mas é imperativo que o seu tamanho seja reduzido, para o fortalecimento do futebol brasileiro com um todo.
Para isso, é fundamental que as federações estaduais sejam refundidas em uma forte Liga Nacional de Clubes. Esse é o caminho da modernização.

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