São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 1997
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Béjart dá movimento ao Queen

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Maurice Béjart completou 70 anos no último dia 1º de janeiro. Em plena atividade, o coreógrafo que marcou a arte deste século inicia amanhã, no Théâtre National de Chaillot, de Paris, mais uma temporada grandiosa, que se estenderá ao Brasil em abril.
Com platéia estrelada, que pode contar com a presença de Madonna, Béjart e seu grupo -o Béjart Ballet Lausanne- estão estreando o espetáculo "Le Presbytre n'a Rien Perdu de Son Charme, Ni le Jardin de Son Éclat", que integrará o programa a ser apresentado no Brasil.
Ao som de Mozart e do conjunto de rock inglês Queen, além de figurinos desenhados por Gianni Versace, "Le Presbytre" é uma superprodução em homenagem ao bailarino Jorge Donn, o célebre intérprete de "Bolero", e ao cantor Fred Mercury. Ambos morreram aos 45 anos, vítimas de Aids.
Recuperando sucesso e vitalidade, depois de um período de "recesso" após a morte de Donn, Béjart está animado com seus novos projetos. Até o ano 2000, permanecerá sediado em Lausanne, cidade suíça que patrocina sua companhia e que acaba de renovar contrato com o coreógrafo.
Também em Lausanne, Béjart dirige a Escola Rudra, versão atual do Mudra, o centro experimental que o coreógrafo fundou em Bruxelas em 1970 para formar artistas completos, capazes de dominar várias expressões.
Paralelamente, Béjart continua sendo convidado para coreografar para grupos internacionais. Neste ano, deverá criar um espetáculo para a companhia de Martha Graham (1894-1991), a revolucionária coreógrafa norte-americana, cujo elenco continua se renovando.
"Eu e Martha amávamos um ao outro e estou adorando a idéia de trabalhar com seu grupo", comenta Béjart, que esteve no Brasil pela última vez em 1989.
Durante a turnê brasileira que começa dia 5 de abril em Porto Alegre, o Béjart Ballet Lausanne realizará 23 espetáculos em nove cidades. No Teatro Municipal de SP estará em cartaz do dia 9 a 13.
No momento, Béjart também está escrevendo o segundo volume do livro de memórias "Um Instante na Vida do Outro", que a Editora Nova Fronteira lançou no Brasil em 1981.
Nascido na cidade francesa de Marselha, Béjart cresceu num ambiente erudito. Seu pai, o filósofo Gaston Berger, era especialista em cultura oriental, que mais tarde também seduziria o coreógrafo.
"Sou fascinado por todas as culturas. Não pelo que elas têm de diferente ou pitoresco, mas sim por suas semelhanças, pelo que têm em comum", afirma Béjart, que já se inspirou em manifestações da Índia, Irã, Japão, Tibete, África.
Com a fertilidade criativa de Béjart, a dança deste século ganhou inúmeras obras-primas, entre as mais de 200 coreografias que ele concebeu.
Acreditando que a dança expressa a divindade melhor do que qualquer outra linguagem, Béjart popularizou o balé com criações que causaram impacto em platéias de todo o mundo.
Também diretor cênico de extraordinário talento, Béjart ganhou fama logo que fundou o Ballet do Século 20, em 1960, quando o Théâtre Royal de la Monnaie, de Bruxelas, o convidou para realizar uma versão de "A Sagração da Primavera", de Stravinsky.
Logo após fazer de "A Sagração" uma apoteose do amor e da vida, Béjart lançaria mais um sucesso: "Bolero", ao som de Ravel, que encontrou no argentino Jorge Donn seu mais perfeito intérprete.

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