São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 1997
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Árabes mantêm divisões sobre os israelenses

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os vizinhos de Israel se dividiram quanto ao acordo assinado ontem -e essa divisão seguiu a lógica das atuais alianças no Oriente Médio. Egito e Jordânia, os principais aliados regionais de Israel, apoiaram-no por reiniciar o processo de paz na região.
O chanceler do Egito, Amro Musa, disse que o final positivo de quatro meses de negociações será um incentivo para o reinício da paz em toda a região, inclusive com Síria e Líbano.
Estes dois países foram as principais vozes discordantes. "O acordo é parte dos esforços para enterrar o processo de paz, lançado basicamente em Madri (em 1991), e que agora está, sem dúvida, se afogando no mar das contradições e extremismos de Israel", disse um porta-voz do governo sírio.
O país reclama que um acordo em separado para Hebron emperra a possibilidade de uma negociação global entre árabes e israelenses. O diálogo entre Síria e Israel, que tem como ponto central as colinas do Golã (conquistadas por Israel), está parado.
O Líbano, uma espécie de satélite da Síria no campo político, também atacou o acordo de ontem.
O presidente Elias Hraui disse que Israel saiu fortalecido das negociações para pressionar libaneses e sírios. Ele teme que Binyamin Netanyahu consiga transformar as questões da paz com Síria e Líbano em dois assuntos diferentes -a proposta "Líbano primeiro", à qual estes se opõem.
Já o ministro da Informação da Jordânia, Maruan Muacher, disse que o acordo sobre Hebron pode levar a "uma paz justa e abrangente, que inclua todos os lados no conflito árabe-israelense".
Grupos radicais árabes também criticaram o acordo, como era esperado. Em Beirute, Líbano, a Frente Democrática para a Libertação da Palestina disse que Israel conseguiu a paz pela subjugação, isto é, vai manter o seu poder militar em Hebron e dividir a cidade.
Também em Beirute, o Hamas (Movimento de Resistência Islâmico) criticou o acordo. Ataques terroristas do grupo, ainda no governo trabalhista de Shimon Peres, foram os responsáveis pelo atraso na entrega de Hebron.
Peres tentou lucrar politicamente com o acordo. Disse que o processo de paz tem "uma força própria", que nem a política pode conter. Ele foi um dos três principais responsáveis pelo processo de paz entre israelenses e palestinos (os outros foram Iasser Arafat e Yitzhak Rabin) e perdeu as eleições de 1996 para Netanyahu.
Para Peres, o acordo marcou "o princípio do fim" do fosso ideológico que dominou Israel desde as eleições, decididas por estreitíssima margem de votos. "É uma boa direção, mas ainda resta muito trabalho para fazer."
A viúva de Yitzhak Rabin, Leah, disse que o tratado provou que o assassinato de seu marido, em novembro de 1995, foi em vão, pois não mudou os rumos da política do país. "Ele (Rabin) é o vencedor, e estamos todos seguindo seus passos, incluindo o sr. Netanyahu e seu governo."

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