São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Figurões dizem que cobram quanto valem

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os figurões da medicina brasileira -que chegam a cobrar até R$ 400 por uma consulta médica- dizem que eles valem quanto cobram dos pacientes.
Os anos de estudo, em muitos casos no exterior, e de experiência acumulada são atributos que lhes possibilitam cobrar por uma consulta até 443% a mais do que a média de preço de profissionais da área.
Otávio Roberti Macedo, médico especializado em dermatologia cosmética, diz que cobra R$ 200 por consulta porque tem um trabalho diferenciado.
"A dermatologia é uma das áreas que têm atualização científica constante. Por isso vou em média seis vezes por ano para a Europa e Estados Unidos para fazer cursos de aperfeiçoamento."
Uma consulta com macedo demora de 30 a 40 minutos. Ele tem uma equipe de cinco assistentes -também dermatologistas-, que o auxiliam nas consultas.
"O meu preço é o de um profissional atualizado." Ele conta que tem colegas que trabalham em Washington e em Nova York e que cobram dos pacientes preços semelhantes ao seu.
"O paciente meu que for para os Estados Unidos vai receber o mesmo tratamento que tenho aqui." Macedo diz que o seu preço de consulta é o mesmo desde 1995. "Não pretendo aumentá-lo. A economia está estabilizada."
Vicente Amato Neto, infectologista, diz que a experiência acumulada por um profissional é importante, mas não pode servir apenas para enriquecer o médico.
Amato Neto, formado em 1951, diz que cobra R$ 150 por consulta. "Sei que cobro menos do que outros colegas infectologistas tão experientes quanto eu. Mas acho que um profissional experiente não pode cuidar só de uma elite."
O infectologista critica os colegas que cobram, por exemplo, R$ 400 por uma consulta médica. "Esse valor está fora da realidade."
Amato Neto diz que normalmente os seus pacientes já foram examinados por outros profissionais, que não conseguiram resolver um problema. "Esses pacientes, muitas vezes, não têm recursos para arcar com tantos gastos."
Na sua análise, os médicos considerados "feras" deveriam estar mais preocupados em atender a sociedade, e não apenas a classe A.
Francisco Magaldi, terapeuta que tem clínicas em São Paulo, Rio de Janeiro e Santos, conhecido pelo tratamento de emagrecimento à base de ervas, cobra R$ 200 por consulta no Rio de Janeiro e R$ 250 em São Paulo e Santos.
Ele explica que a diferença de preços se deve ao fato de ter de gastar com hospedagem quando vem a São Paulo ou vai a Santos.
"Os preços são os mesmos desde o início do Plano Real", diz Magaldi, que não tem planos para alterá-los. Ele conta que o paciente que vai a sua clínica passa, na verdade, por três consultas -há dois médicos, além dele.
"Por incrível que pareça, nunca tivemos qualquer reclamação sobre o preço que cobramos", diz ele. Cerca de 90% das pessoas que passam por suas clínicas são artistas, modelos e empresários.
A Folha entrou em contato com outras grandes "feras" da medicina brasileira. Muitos, sem querer ser identificados, disseram que a lei da oferta e da procura é seguida à risca na hora de fazer o preço de uma consulta.
O cirurgião plástico Ivo Pitanguy diz que não há dúvida de que um profissional, de qualquer área, leva em conta a sua experiência e notoriedade para cobrar pelo seu serviço. "Quando eu era jovem, tinha menos experiência", diz ele, que não sabia exatamente o valor cobrado por uma consulta na sua clínica -R$ 200.

Texto Anterior: Serviço pode ser usado até um dia antes
Próximo Texto: Consulta é mais cara no centro de SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.